Um relato sobre o despertar do fim de um relacionamento

relacionamentos
Bruna Cosenza
16 de setembro de 2020

Te amar nunca foi fácil.

Ao som de “Diary”, da Alicia Keys, deixei os meus pés desembestados me levarem até um dos nossos cantinhos pela cidade. Saí do trabalho atordoada, como de costume. Sem pensar, simplesmente me deixei ir. A sensação era horrível: o calor do asfalto subia enquanto eu caminhava até o ponto de ônibus e a dor na alma por conta da perda latejava como se tivesse sido ontem.

Não tinha sido ontem. Já fazia algumas semanas (ou meses) que você tinha decidido partir. A minha cabeça continuava negando o fato, por isso acabei indo para lá sem nem me dar conta. Ao chegar, fui até a lanchonete e comprei uma Coca-Cola. Fiquei sentada no balcão feito uma paspalha por alguns minutos, até que a ficha caiu.

“O que eu estou fazendo aqui?”

Essa era a única coisa que se passava pela minha cabeça: eu fazendo papel de idiota, achando que você entraria naquele cinema de rua de repente, no final da tarde de uma terça-feira qualquer. Você não apareceria, eu sabia disso, mas teimava em me obrigar a acreditar que existia um caminho de volta.

Não existia. O único caminho de volta que eu deveria fazer era até uma vida saudável e feliz, que você tinha arrancado de mim há muito tempo. Eu juro que sabia disso, só não conseguia raciocinar muito bem porque meu coração ainda gritava por nós. Um nós que só permanecia vivo em minha mente.

Cansei de fazer papel de tonta e fui até o banheiro do cinema. Caí no choro, talvez um dos mais honestos e dolorosos da minha vida. Aquele choro que a gente não sabe nem de onde vem, mas que nos atinge como uma granada. Ele veio sufocante, sugando todo o meu ar. Foi necessário, como um tapa na cara que a gente toma quando precisa acordar para a vida. Eu precisava acordar.

Estava adormecida em meio ao nosso amor há tempo demais. Não tinha mais espaço para isso na minha vida. Despertar era mais do que necessário. Você estava seguindo a sua vida como se nunca tivéssemos existido. Para você, a nossa história estava cada dia mais enterrada, enquanto eu teimava e regá-la com o meu sofrimento.

Foi nesse momento, no banheiro de um cinema de rua, que me dei conta de que estava sufocada de sofrimento. Era só isso o que você me fazia sentir nos últimos meses. Será que, apesar de amá-lo, a vida não poderia ser muito melhor sem você? Eu tinha me acostumado com a dor do nosso amor, como se fosse para ser assim. Não precisava ser assim, podia ser melhor, bastava querer.

Confesso que, até então, eu não queria. Permanecia inundada na dor porque achava isso melhor do que seguir em frente sem você. A dor, de uma forma bizarra, me lembrava de que você ainda era parte de mim. Mas aquilo estava me matando.

Um amor tem o poder de nos fazer viver ou morrer, é uma escolha. Eu tinha escolhido morrer, cada dia um pouquinho. Perdida, sem rumo, sem saber quem eu era, o que buscava para mim. Só via você. Hoje, quando me lembro dessa fase da minha vida, às vezes sinto um nó no estômago —  foi doído demais, precisava ser assim?

Precisava. Acredito que todas as pessoas que cruzam o nosso caminho o fazem por um motivo. No nosso caso, só entendi esse motivo quando te deixei ir de uma vez por todas. Despertar para o término do nosso amor abriu portas inesperadas para a minha vida. Sei que só estou onde estou hoje porque você foi a razão desse despertar. Sei que, sem você, talvez essa versão de mim mesma, que eu gosto tanto, não existisse.

Não sei se o processo de perda precisava ser tão doloroso, mas sei que ele precisava acontecer. Foi ao te perder que eu me encontrei. E me encontrei mais forte, mais preparada e autêntica. Obrigada, de uma forma esquisita, por ter virado o meu coração do avesso e não ter me tratado como eu merecia. A dor que você me trouxe me transformou em cinzas e me obrigou a renascer. E esse renascimento foi essencial para que eu chegasse até aqui.

Te amar nunca foi fácil. Não era para ser. Hoje eu sei disso e posso te agradecer sem rancor.


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