Uma tradição de Natal

historias-soltas
Bruna Cosenza
20 de dezembro de 2019

Tudo poderia acontecer naquela noite. Era Natal.

Os biscoitos de gengibre e o copo de leite estrategicamente posicionados no canto direito da lareira sinalizavam que o bom velhinho ainda não tinha passado por lá.

Lila passou o dia todo preparando os biscoitos com a sua mãe. Até comprou formas especiais para prepará-los no formato de árvore de Natal, boneco de neve e boneco biscoito. Para finalizar, preparou um glacê que utilizou para decorar e deixá-los ainda mais bonitos. Ela se dava bem na cozinha, isso ninguém poderia negar.

“Vamos deixar alguns para as renas também, mamãe?”, Lila perguntou quando sua mãe estava preparando os quitutes do Papai Noel. “Para as renas? Elas comem biscoitos, Lila?”, fez uma careta engraçada.

Lila explicou que, no filme de Natal que assistira naquela tarde, o Papai Noel tinha alimentado as renas com biscoitos, portanto, era importante deixar para elas também. A mãe sorriu e não questionou, colocando um total de 8 biscoitos e 2 copos de leite gelado (quem sabe elas não iam querer tomar alguma coisa também, né?).

Naquele ano, o Natal seria na casa da avó de Lila. A garota de 8 anos passou a ceia toda ansiosa, pensando quando o Papai Noel chegaria à sua casa. Não conseguiu nem se distrair com seus primos, com quem sempre fazia bagunça. Estava com o seu vestido de Natal: vermelho, mangas curtas e bem rodado. Parecia uma boneca com o cabelo enrolado e a franjinha cheia bem rente aos olhos.

Sua mãe insistia para que comesse, afinal, gostava muito de comida de Natal. Ansiosa como se estivesse prestes a descobrir que ia ganhar um irmãozinho, Lila comeu pouco. Enquanto remexia o tender com farofa no prato, perguntou à sua mãe: “Um dia podíamos passar o Natal na neve? Assim poderíamos fazer bonecos de neve, esquiar e acender a lareira. Aqui nunca conseguimos acender a lareira porque é calor no Natal.” Fez uma pausa e continuou: “Quem sabe até conseguimos ver algumas renas.”

A mãe sorriu e fez um leve carinho nos cabelos sedosos de Lila, sua pequena sonhadora que herdara uma linda paixão pelo Natal.

O relógio marcar 01:32 da manhã quando Lila abriu a porta de casa e, ansiosa, se deparou com os biscoitos mordidos e o copo de leite pela metade. Alguns farelos formavam uma trilha perto da árvore de Natal, sinalizando que alguém havia passado por ali.

“Mamãe, mamãe, mamãe! Ele veio, ele veio!” Lila abraçou o pequeno de apenas 4 anos, seu filho. “Sim, ele veio. Ele sempre vem, eu não disse, querido?” Abriram os presentes enquanto comiam alguns dos biscoitos que sobraram. Fazia frio e finalmente começou a nevar. Pela janela da sala, Lila e seu filho admiravam a neve caindo.

Lila, enfim, realizara o seu sonho de passar o Natal na neve. Ela já não tinha mais 8 anos, mas ainda acreditava na magia do Natal. Colocou o filho na cama e encheu a meia da criança pendurada na lareira com um presente. Não conseguia dormir muito bem no Natal, por isso decidiu acender a lareira e ler um bom livro.

Já estava amanhecendo quando se deu conta de que havia pego no sono ali no sofá mesmo. O garoto se levantou sonolento, com o cabelo tigela espetado para todos os lados. Caminhou lentamente até a sala com o seu pijama de macacão especial para o frio de estampa natalina. Ainda com os olhos meio fechados, ansioso colocou as mãos dentro da sua meia da lareira e pegou o presente.

Lila, já estava na cozinha preparando o café da manhã. A tradição era a mesma que compartilhou por tantos anos com a sua mãe, exceto que lá fora nevava. Era 25 de dezembro e tudo poderia acontecer. Era Natal.