[#15] Quais falsas verdades você perpetua sobre si mesmo?

caneta-solta
Bruna Cosenza
15 de outubro de 2023

Este é o quarto texto sobre aprendizados e reflexões durante o meu período morando em Madrid, em outubro de 2023.

Ontem, dia 14/10/2023, eu e a Ana tínhamos combinado de ir a um outlet que fica em San Sebastián de los Reyes, bem pertinho de Madrid.

Como de costume, dei uma olhada na rota no Google Maps para entender qual era o caminho mais fácil para chegar lá. Uma baldeação no metrô e um ônibus, a princípio parecia bem fácil.

No entanto, depois de muito andar no metrô, chegamos a uma espécie de rodoviária. Até então, eu estava achando que iríamos pegar o ônibus em algum ponto de rua, mas não era o caso.

Eu tinha duas opções diante daquela realidade:

  1. Pedir um Uber e fazer o último trecho para o outlet de carro;
  2. Tentar me informar e descobrir qual era o ônibus e onde pegá-lo (as informações do Google Maps não estavam batendo com o que tinha diante de mim e fiquei bem confusa).

A primeira opção até passou pela minha mente, mas eu não queria escolhê-la. O desejo era ir até o final e tentar de qualquer jeito achar aquele ônibus.

Ao decidir vir morar em Madrid por cinco semanas, o objetivo principal sempre foi me desafiar, sair da zona de conforto o máximo possível. Pedir um Uber diante da primeira dificuldade seria ficar dentro dos meus limites de segurança. E não é isso o que vim fazer aqui.

Por isso, continuei tentando. Andei, pedi informações, andei mais um pouco e encontrei a plataforma da qual o ônibus disseram que o ônibus sairia, mas como a informação não batia com o número que o Google Maps tinha me fornecido, ainda estava com dúvidas. Não tinha ninguém para perguntar, então entramos na fila e perguntei ao próprio motorista. E, sim, era o ônibus correto!

Para alguns, isso pode parecer algo tão bobo e rotineiro, mas para mim foi mais um desafio vencido. Conseguir me deslocar pela cidade de diferentes formas, indo além daquilo que é confortável, me faz ter cada vez mais certeza de que sou capaz de me virar em qualquer situação.

É claro que às vezes bate o cansaço ou dá um friozinho na barriga, mas aprendi que o mais importante é continuar acreditando que vai dar certo.

Hoje, enquanto trocava ideias com a Ana sobre os nossos processos e sentimentos em relação à viagem, falamos sobre como, às vezes, sem nem perceber, perpetuamos, por meio da nossa fala, algo que não é verdade sobre nós e a nossa capacidade em diversos âmbitos. Por exemplo…

  • “Eu não consigo cozinhar tal coisa.”
  • “Eu não sei ir para o outlet de transporte público.”
  • “Eu não consigo sentar em um restaurante e pedir uma comida em outra língua.”

Mas será que você não consegue, não sabe ou apenas falou tanto isso a vida inteira sobre si mesmo que acabou acreditando?

Muitas vezes, é mais fácil e cômodo que os outros façam por nós algo que é assustador. Durante muito tempo, são os nossos pais que ocupam esse papel, mas chega um momento em que é necessário romper o cordão e se tornar independente em todos os âmbitos.

E isso não significa que não podemos pedir ajuda ou conselhos, mas é preciso dar conta do recado sozinho. Ou seja: é preciso descobrir qual é o ônibus certo para chegar aonde você precisa, sem atalhos que encurtem o desafio.

Essa viagem tem me ensinado tanto, sendo um dos aprendizados mais importantes que eu sei fazer muita coisa, sou desenrolada, me viro diante das necessidades e dou um jeito de fazer acontecer.

Por muito tempo, perpetuei uma verdade sobre mim mesma: “sou insegura”, eu repetia. Mas será mesmo? Hoje tenho as minhas dúvidas se era insegura ou se apenas repeti tanto isso que acabei acreditando.

A vida é uma grande caixinha de mistérios e eu continuo me descobrindo o tempo todo, mas se tem algo que não vou mais reforçar quando voltar para o Brasil é a ideia de que não sou capaz.

Eu sou capaz, essa é a maior verdade que descobri nos últimos doze dias, e é o que vou perpetuar daqui para frente.