Uma reflexão sobre o papel da fotografia em nossas vidas

autoconhecimentocronicas
Bruna Cosenza
31 de dezembro de 2020

O livro interativo “A book that takes its time” tem sido o meu companheiro nas últimas semanas. A proposta da obra é te trazer para o presente por meio de reflexões e atividades que te ajudem a viver melhor, com mais calma e sabedoria.

Um dos capítulos aborda a questão que leva o título deste artigo: a nossa necessidade constante de fotografar absolutamente tudo o que nos cerca.

Fiquei tão reflexiva sobre o assunto que resolvi escrever este breve texto para incentivar mais pessoas a pensarem sobre isso. Espero que te faça repensar a maneira que você tem lidado com as câmeras e como isso pode afetar a sua vida! Vamos lá?

Os tempos da câmera analógica

Você se lembra daquela época em que usávamos câmeras analógicas que utilizavam filmes fotográficos para a captura da imagem? Eu me lembro de que sempre que viajava ou era uma época especial os meus pais levavam a câmera e, depois, nós revelávamos o filme para ver as belas fotografias.

O mais maluco disso tudo é que era necessário comprar um filme fotográfico que, normalmente, costumava ter um limite de 20 ou 30 e poucas fotos. Isso significa que não podíamos simplesmente tirar fotografias de absolutamente tudo o que víamos pela frente. Pensávamos muito bem no que merecia os cliques, afinal, o filme era limitado.

Agora estamos tão acostumados a tirar quantas fotos quisermos que parece até um absurdo ter um limite de fotografias, não é mesmo? O mesmo acontecia na época do Orkut, em que os álbuns tinham um limite de 12 fotos, se não me engano. A gente escolhia muito bem quais fotos colocar de acordo com a imagem que gostaríamos de transmitir.

Os antigos álbuns de fotografias de família

Você provavelmente deve ter em casa alguns álbuns de fotografias da sua infância, não é mesmo? Diferente de hoje em dia, que temos milhares de fotos em nossos celulares, esses álbuns muitas vezes estão incompletos. Isso significa que eles têm alguns gaps de fases das nossas vidas.

Pode parecer ruim, mas na verdade não é, pois esses álbuns relatam histórias e aquilo que fica faltando os nossos pais, irmãos, avós e tios nos contam. Há espaço para respiros e lindas recordações.

Atualmente, os pais ficam o tempo todo preocupados em registrar cada piscada de olho de seus filhos, como se a ausência de um registro fosse fazê-los esquecer desses momentos no futuro.

Será mesmo? Ou será que ficamos tão preocupados em fotografar tudo o que acontece ao nosso redor que nos esquecemos de viver o presente?

Eternize memórias por meio do olhar e das sensações

Quantas vezes, durante uma viagem ou uma celebração com pessoas queridas, você se pegou mais preocupada em tirar fotografias do que viver o momento? Acontece com a maioria das pessoas.

Na minha última viagem, me lembro de que um ponto turístico famoso estava abarrotado de gente. Uma fila gigante para simplesmente tirar uma foto com um monumento. Quando chegava a vez das pessoas, podia notar que elas não estavam nem aí para tudo o que o monumento significava. A maior preocupação era a foto (provavelmente para postar no Instagram em seguida).

Não fiz questão de entrar na fila, mas me lembro de que uma das pessoas que estava viajando comigo ficou desesperada para tirar a foto. Não bastava ver o monumento e tirar uma foto dele sozinho ou com outras pessoas em volta — ela queria de qualquer jeito uma foto lá.

Lembro que fiquei muito incomodada porque a preocupação com a fotografia era tão grande que, no fundo, ela nem estava curtindo o momento. Era um desespero assustador!

Será que não teria sido mais gratificante apenas sentir o momento? Admirar o monumento sem se preocupar tanto com a foto perfeita e sim com o significado de tudo aquilo?

Não me entenda mal, não quero dizer que as fotografias não são válidas, mas um pouco mais de equilíbrio faz bem. Às vezes, ficamos preocupados demais em registrar tudo e perdemos o momento presente. É claro que é uma delícia olhar para as fotos de momentos importantes e recordar anos depois, mas não precisamos fotografar absolutamente tudo.

Podemos eternizar de uma maneira muito mais bela a vida que nos cerca por meio dos nossos sentidos, algo que, infelizmente, as fotografias não captam. Os cheiros, o toque, a sensação… Tudo isso só conseguimos recordar se nos permitirmos viver o momento.

Quantas fotos que você tira são realmente especiais?

Por fim, um último exercício que pode ser interessante de se fazer é revisitar o seu álbum de fotografias digitais da última viagem ou celebração com amigos e familiares.

Repasse as fotos e se pergunte quantas delas são realmente significativas. Temos bastante dificuldade para deletar esses arquivos digitais, mas no fundo, entre as milhares de fotos que tiramos, poucas são realmente significativas.

Não seremos hipócritas e dizer que as fotos não são importantes. É uma linda maneira de eternizar os momentos de nossas vidas. O que eu desejo propor por meio dessa reflexão é que você pare e pense melhor na próxima em que estiver desesperado para tirar uma foto e se esquecer do momento presente.

Enquanto milhares de pessoas estão preocupadas em tirar uma foto de um quadro famoso ou de um pôr do sol, que tal simplesmente sentir? Respire, admire, sinta. Essa é a melhor recordação que você vai levar desse momento.

Afinal, você quer olhar para a foto e se lembrar do sufoco que foi tirá-la ou deseja recordar das belas sensações que teve naquele dia?


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