“Bruna, como você escreve os seus livros? Como se organiza?”

Essa é uma das perguntas que as pessoas mais me fazem quando estamos falando sobre os meus livros. Quem está começando na área e tem vontade de escrever, se sente meio perdido.

Posso ser bem sincera? É normal se sentir perdida. Quando escrevi o meu primeiro livro, “Lola & Benjamin” (Editora Chiado, 2017), simplesmente escrevi. Não pensei em planejar a obra, não fiz todas as revisões que hoje enxergo serem necessárias e nem tinha um olhar tão crítico. Faz parte, eu era nova e estava aprendendo.

Mas se você quiser já começar o seu primeiro livro evitando alguns erros e fazendo um ótimo planejamento, sei que posso te ajudar. A etapa de organização inicial é essencial para que, lá na frente, você tenha menos retrabalho e atinja um ótimo resultado final. A cada livro que escrevo aprendo mais sobre como fazer o meu planejamento, por isso, se quiser aprender comigo, continue a leitura!

O que é o planejamento de um livro?

O primeiro passo é entender sobre o que se trata o planejamento de um livro. Este processo diz respeito a tudo o que você organiza antes de começar a escrever a obra. Isso significa que quando você tem uma ideia, não deve sair escrevendo que nem louco. É preciso se organizar primeiro para garantir uma coerência ao longo de toda a construção e evitar retrabalhos.

Cada escritor tem a sua maneira de fazer esse planejamento, então vou compartilhar por aqui como eu faço para orientar quem está começando. Lembre-se de que você não precisa fazer exatamente como eu e sim pegar os meus ensinamentos e adaptar para a sua realidade, está bem?

Ah, e acredito que um livro de ficção tenha algumas peculiaridades mais complexas, mas é possível adaptar os ensinamentos para um livro de não ficção, se for o seu caso.

1. Propósito da obra

O primeiro passo, para mim, é sempre entender o propósito da obra, ou seja, por que o livro existe? Costumo me perguntar o seguinte: se esse livro não existisse, faria alguma falta para o mundo?

Ter clareza sobre a razão de existência do seu livro ajuda a direcionar toda a construção e garantir a coerência ao longo da obra. Quando você terminar de escrever tem que resgatar o propósito e se questionar se ele está lá, vivo na essência do seu livro.

Um exemplo: o propósito do meu livro “Lola & Benjamin” (Editora Chiado, 2017) é abordar os relacionamentos contemporâneos de uma maneira realista para que as pessoas se identificassem e refletissem sobre a forma que lidam com o outro em um relacionamento amoroso.

2. Tema da obra

Muito conectado ao propósito, o tema da obra abrange o assunto que será abordado ao longo do livro. “Lola & Benjamin” (Editora Chiado, 2017), por exemplo, tem como tema central a questão dos relacionamentos amorosos contemporâneos. Já o “Sentimentos em comum” (Publicação Independente, 2021) tem como temas principais o autoconhecimento, amor e trabalho, abordando questões universais a todos os seres humanos.

3. Gênero da obra

Antes de começar a escrever é importante ter clareza sobre o gênero da obra: romance, contos? É claro que no meio do caminho pode acabar mudando, mas é interessante ter esse direcionamento no começo para pelo menos ter um norte.

4. O personagem central e o conflito

Os livros de ficção também podem contemplar na etapa de planejamento a definição do conflito central da história que será vivido pelo personagem principal.

Lembre-se de que esse conflito deve ser forte o suficiente para que o livro se mantenha vivo ao longo de toda a narrativa. Ao mesmo tempo que precisa ser desafiador, também não pode ser totalmente impossível de ser vivido ou superado. É o conflito que vai conduzir a história e gerar tensão.

Nesse momento, pense também no personagem central e faça uma organização de todas as suas características, tanto físicas como de personalidade.

5. Definição de foco narrativo

Se o livro for de ficção vale também planejar qual será o foco narrativo. Existem vários tipos de narradores que podem ser trabalhados na história e é importante conhecer as características de cada um e qual o impacto e nível de desafio de uma escolha ou de outra.

Alguns livros, por exemplo, contam com vários narradores. Esse é um desafio a mais, afinal, você precisa narrar a história a partir da perspectiva de vários personagens.

6. Personagens secundários

Após a definição do personagem central, os livros de ficção também exigem que você defina os personagens secundários. Faça o mesmo exercício anterior e escreva um textinho sobre as características de cada um.

7. Encadeamento de fatos: enredo

Pense na sequência de fatos da história, ou seja, o enredo. É muito interessante fazer isso antes de começar a escrever porque assim você não se sente perdido no meio do caminho. O enredo pode ser linear (introdução, desenvolvimento, clímax, desfecho) ou não linear.

É claro que não é preciso ter clareza sobre absolutamente todos os fatos logo no começo, mas é válido ter uma visão geral para não travar no momento de escrever e pensar: “E agora?”.

8. Espaços

Por fim, os espaços, ou seja, onde a história vai se passar também merece uma atenção especial na etapa de planejamento. Pense em quais lugares acontecerá a história e escreva um pequeno texto descrevendo estes ambientes. Assim, no momento de escrever o livro você já tem direcionamentos claros sobre isso.

Lembre-se de que se a história se passar em um lugar sobre o qual você não tem conhecimento será necessário pesquisar para tornar a descrição mais realista.

Faça um registro do seu planejamento

Para garantir que todas as informações fiquem registradas, anote tudo o que for definido na etapa de planejamento. Pode ser no computador ou em um caderno, mas garanta que o registro seja feito, assim você pode sempre voltar para consultar e fazer modificações quando necessário.

Ufa! Viu só como tem muita coisa que precisa ser feita antes de começar a escrever? Se você fizer o planejamento direitinho, garanto que vai poupar muito tempo lá na frente. Agora é colocar a mão na massa e começar a planejar o seu livro!