Término sem fim

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Bruna Cosenza
12 de julho de 2015

— Você sabe que não acabou! Você sabe que eu tenho razão! — foram as últimas palavras de Clara para Gabriel.

Chovia. Por que sempre chovia em dias ruins? Não era coincidência que Clara tivesse pegado birra dos dias chuvosos. Todos os acontecimentos ruins de sua vida vinham acompanhados de um belo temporal.

Eles caminhavam pela rua. Gabriel ia à frente, olhando para trás de 10 em 10 segundos para ver se Clara continuava andando. Ela segurava um guarda chuva, tinha passos lentos e não olhava Gabriel nos olhos. Ela não conseguia. Era a caminhada mais triste de sua vida, ao lado da pessoa que ela mais queria naquele momento. Mas, por algum motivo, tudo parecia mais fácil para Gabriel. Como se ele já tivesse programado tudo em sua cabeça. Como se ele já esperasse por esse fim há muito mais tempo. Como se, para ele, tivesse que ser daquela forma: debaixo de chuva em uma terça-feira à noite. Já Clara não queria compactuar com aquele fim, pois não acreditava nele.

Eles se despediram em frente a um café. Não falaram nada, apenas se olharam. O olhar mais longo e pesado de suas vidas. Gabriel ainda pensou duas vezes se deveria deixá-la daquela forma ali sozinha, mas continuou a caminhada sem ela. Clara se sentou e começou a chorar desesperadamente enquanto o via desaparecer no meio da escuridão e da chuva.

Dias depois, quando ainda estava se recompondo, Clara continuava com a certeza de que a história com Gabriel não terminaria em uma noite chuvosa de terça-feira. Não demorou muito para esbarrar com ele em um dos lugares que costumavam frequentar juntos. Não sabia o que fazer: sair de fininho sem que ele percebesse ou cumprimentar e fingir que estava tudo bem? Ambas as opções pareciam péssimas. Deram de cara quando estavam indo até o balcão pegar um café.

Ficaram se encarando por alguns segundos, até Gabriel dizer o tradicional “Oi, tudo bem?”. Não sabiam se deviam encostar um no outro. Parecia errado, mas ao mesmo tempo queriam tanto. Clara estava completamente travada. Apenas esperava o seu café enquanto reparava de canto de olho que Gabriel continuava encarando-a. Eles não trocaram mais do que meia dúzia de palavras.

Ela sabia que não tinha terminado. Era o fim mais fajuto da história. Um ainda ficava desconfortável na presença do outro e, quando não estavam juntos, pensavam como seria se ainda estivessem. Era óbvio. Clara sabia.

—  Você tinha razão. — Gabriel sussurrou no ouvido de Clara, deu um beijo em sua bochecha e saiu da cafeteria.

Ela olhou na direção de Gabriel e, no mesmo segundo, ele se virou. Seus olhares se cruzaram. Seus sorrisos conversaram. Agora Gabriel sabia também.