Não somos culpados pelo o que sentimos
— Sinto muita culpa o tempo todo! — Natália disse com uma expressão de agonia.
Ela esperava que meses após o término com Rodrigo as coisas já estivessem melhores. Não é que Natália não estivesse tocando sua vida, como ele mesmo havia aconselhado na última conversa que tiveram, mas não conseguia mergulhar completamente em uma vida sem Rodrigo.
— Por que você sente culpa? —Rodrigo perguntou.
— Quero seguir sem você, mas algo me prende! Toda vez que pareço chegar à superfície para respirar, você me puxa lá para baixo novamente! Eu me sinto culpada porque parece que é falta de vontade da minha parte, quando na verdade não consigo controlar! — ela falou.
Rodrigo tentava manter uma distância, pois sabia que também não estava pronto para lidar com Natália como se não significassem mais nada um para o outro.
— Exatamente… — ele procurava as palavras certas — Você não controla o que sente, Natália! Não pode se culpar por isso!
— Conheci outra pessoa… — ela disse desviando o olhar.
Rodrigo não esperava que essas palavras saíssem naquele momento. Ficou sem reação, com o olhar vidrado no chão.
— Isso é bom… — ele começou dizendo — Se for para ficar com alguém, que seja uma pessoa que te faça bem…
— Você está feliz que eu conheci outra pessoa? — ela não esperava essa reação dele.
Rodrigo hesitou. Era como se as palavras estivessem entaladas em sua garganta. Dentro dele, havia uma batalha entre o que deveria ser dito e o que ele realmente queria falar para Natália.
— Estou feliz… — foi a única coisa que ele disse — Você já sabe o que penso sobre nós.
— Parte de mim sente culpa por ficar com outras pessoas, pois ainda penso em você… — Natália tentou continuar.
— Por favor… Não… — Rodrigo parecia desconfortável com o assunto — Não somos culpados pelo o que sentimos, apenas pelo o que fazemos! Tome conta de suas atitudes e não sinta culpa pelo o que você sentir.
Natália se levantou e começou a procurar por algo dentro da bolsa.
— Escrevi isso para você. Leia quando quiser… — ela falou — Tenho que ir…
Rodrigo pegou o papel e a viu desaparecer. Pensou duas vezes antes de ler a carta, mas resolveu tirar do envelope ali mesmo.
“Rodrigo,
Como Tati Bernardi já disse em um de seus textos: “é fácil porque os dias passam rápidos demais, é difícil porque o sentimento fica, vai ficando e permanece”.
Saber que você pode estar se apaixonando por outra pessoa por ai me da uma agonia danada, mas ao mesmo tempo essa também é a minha chance de conhecer outra pessoa, nem que essa pessoa seja eu mesma.
Tenho sentido muita culpa pelo o sinto. É como se, toda vez que eu consigo me livrar de um pouquinho de nós, algo me puxa até você. Tenho medo de ser injusta comigo mesma e com aqueles que esperam algo de mim.
Mesmo assim, tenho procurado ser correta em minhas atitudes, pois sei que não sou culpada pelo o que sinto, apenas pelo o que faço.
Com amor,
Natália.”
Assim que fechou a carta, Rodrigo foi dominado por uma mistura de culpa e arrependimento por incentivá-la a ficar com qualquer outra pessoa que não fosse ele. Levantou, pagou a conta do café e guardou a carta no bolso direito da calça.
O último pensamento que passou pela sua cabeça antes de sair pela porta do café foi: “Não sou culpado pelo o que ainda sinto por você Natália. Não somos culpados por ainda sentirmos alguma coisa um pelo outro… Não somos culpados…”