Ela estava mais Gabriela do que nunca

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Bruna Cosenza
15 de maio de 2016

Fazia tempo que não a via. Ela estava com o cabelo mais curto. Não achei estranho, pois combinava com seu rosto. Mesmo assim, parecia que eu estava olhando para outra pessoa. Não se parecia mais com a Gabriela que eu conhecia. A Gabriela que eu beijava, tocava e para a qual até já tinha chegado a me declarar um dia.

Ela estava diferente. Mais certa de si mesma, mais independente, mais confiante. Ela estava mais Gabriela do que nunca. Era esquisito.

Quando estávamos juntos ela ainda tinha muitas dúvidas sobre quem era, sobre o que queria fazer e ser, mas, mesmo assim, eu sabia que essas certezas já existiam dentro dela, apenas não tinham aflorado ainda. Ao reencontrá-la assim, pude perceber que todas as suas certezas se consolidaram quando não estávamos mais juntos.

Será que era eu que a impedia? Ou será que eu tinha apenas participado dessa travessia para que ela chegasse sozinha ao destino final? Não conseguiria ter essa certeza. Eu já não tinha mais o direito de saber esse tipo de coisa.

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Comecei a caminhar em sua direção. Pensei em chamá-la para tomar um café, perguntar como estavam as coisas e, assim, poder reparar mais de perto em todos os seus detalhes que tinham mudado desde a última vez em que nos vimos. Hesitei.

Estava aflito e até com um pouco de medo. Não sabia se ela queria me ver e, na verdade, nem eu mesmo sabia se queria falar com ela. Tinha um pouco de medo de que isso causasse certo rebuliço em nós.

Desde que tínhamos nos separado e toda a tormenta cessado, uma maré de calmaria dominava completamente a minha vida. De certa forma, Gabriela era o grande turbilhão de emoções que me colocava para cima e para baixo o tempo todo.

Na época, eu não conseguia lidar com aquilo. Só queria a tranquilidade. Não me arrependo, pois não estava pronto para o furacão que ela causava em mim.

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No entanto, mesmo tendo certeza do que queria, ao vê-la depois de tanto tempo senti uma pontada de saudades de todo aquele rebuliço. Quis me sentir de novo exatamente da maneira que ela me fazia sentir. Eu nem sabia dizer se a queria de novo ou se desejava apenas um pouco daquela emoção.

Desisti de ir até ela. Fiquei observando-a por mais alguns minutos, gravando cada detalhe de seu rosto em minha mente, pois sabia que no momento em que fosse embora, daria um jeito de apagar tudo da minha memória para não ficar revivendo o que eu não poderia ter mais. Aproveitei aqueles minutos apreciando-a da cabeça aos pés. Foi intenso. Foi gostoso. Deu saudades e mais um monte de coisa junto.

O esquisito era que mesmo que eu quisesse tê-la de volta, não poderia mais. Aquela não era mais a minha Gabriela.

Ela tinha se transformado completamente e, de certa forma, eu nem a reconhecia mais. Porém, o mais estranho de tudo era que, por mais diferente que ela estivesse, não conseguia parar de pensar que estava mais Gabriela do que nunca. É… Fazia tempo que eu não a via… Parecia que Gabriela finalmente tinha se encontrado por completo. E ela não precisava de mim para isso.