Tudo o que não aprendi com você

cronicas
Bruna Cosenza
3 de junho de 2024

Estou tentando retomar a prática do bordado. Tudo começou alguns anos atrás, quando eu e minha irmã compramos um curso online baratinho, mas bem didático, para aprender o básico.

Na época, fizemos as aulas juntas, aprendi os principais pontos e até bordei um abacaxi. Mas, com o passar dos meses e a falta de constância, me esqueci de tudo. De tempos em tempos, olhava para a bolsinha com os itens do bordado dentro do armário e pensava: “Quem sabe no próximo fim de semana.”

Após anos, o dia chegou. No último domingo, tomei coragem para recomeçar e aprender tudo do zero mais uma vez. Enquanto passava a linha na agulha, seguia o passo a passo da professora para cada tipo de ponto e tentava arrematar, me lembrei da minha avó materna.

Da época em que ela me contava sobre os seus cursos e me mostrava alguns dos seus lindos bordados. Por algum motivo, gravei o nome “ponto cruz” sobre o qual ela tanto falava.

Confesso, no entanto, que provavelmente não prestava tanta atenção quando ela comentava sobre o assunto, pois quando era mais nova as atividades manuais não me despertavam interesse como agora.

Na tarde de hoje, após algumas tentativas frustradas e outras bem-sucedidas passando a agulha pelo tecido, me pego pensativa sobre como seria gostoso ter a oportunidade de aprender bordado com a minha avó em seus tempos de notável vitalidade. Além de ser mais fácil do que seguir as orientações da professora em um curso online, seria uma atividade que poderíamos realizar juntas.

No final de sua vida, já não tínhamos muitos pontos de encontro. Seu olhar vazio, distante e confuso chegava a impedir conexões mais profundas. Sua memória falha não permitia que antigas atividades fossem executadas com o prazer e a maestria de antes.

Os seus últimos anos de vida foram marcados por muito menos do que ela tinha a oferecer. E o grande perigo é permitir que eles se sobreponham a todo o restante.

Tenho medo de me esquecer… Do sabor da sua comida, do toque da sua mão, do som da sua risada… Tenho medo porque parece que o tempo ao lado de quem amamos nunca é o suficiente. E quando os sintomas da perda se sobressaem, sou invadida por tudo o que poderia ter aprendido com você, vovó, mas que sempre acabou ficando para depois.

Agora, não sabemos quando será o depois, mas espero que ainda tenhamos a oportunidade de bordar juntas.