Nua no espelho
Eu tenho uma amiga. Gosto muito dela, mas quem disse que sentimentos, apesar de puros e genuínos, são o suficiente para sustentar uma amizade?
É preciso de mais. Muito mais. E descobri isso quando viajamos juntas pela primeira vez e fomos obrigadas a enxergar várias das nossas facetas que, até então, estavam camufladas. O período em convivência fez com que cada uma encarasse o próprio reflexo no espelho, algo que, diante de determinadas circunstâncias, nem sempre é tão agradável.
Alguns pedaços de roupa ainda persistiam, nos impedindo de ver as camadas mais profundas. Foi preciso de tempo para ir além da superfície.
A despedida chegou e o futuro encontro passou a exigir uma estação separadas. E quando esse encontro ganhou espaço, olhamos para o espelho de novo, mas dessa vez juntas. Nuas, enxergamos cada uma das nossas imperfeições. Confesso que estava frio. Seria mais fácil ter colocado logo qualquer roupa para evitar a dor de olhar todos aqueles machucados e cicatrizes pelo corpo. Não são muito bonitos de ver.
Seria mais fácil, é verdade. Mas foi o encontro nu que nos permitiu construir uma nova ponte de afeto entre duas pessoas que, por um período, congelaram no tempo porque precisaram aprender que o sentimento nem sempre é o suficiente. É preciso também de muita coragem para ser e ter uma amiga de verdade.
É preciso se colocar nua diante do espelho. Sozinha e com o outro ao lado.