Jazz, sentimentos e um pouquinho de saudades

cronicas
Bruna Cosenza
2 de março de 2016

Para mim, jazz sempre foi um estilo musical cheio de sentimentos. Nunca costumo ouvir jazz quando estou empolgada ou triste demais com alguma coisa. Gosto de ouvir jazz quando quero relembrar momentos bons, quando preciso refletir sobre alguma decisão importante, ou simplesmente quando tenho muitos sentimentos transbordando. Por algum motivo, jazz me provoca uma sensação de paz e me transporta para um lugar sereno.

E foi ouvindo jazz essa semana que me peguei pensando nas saudades. Quando era criança, acreditava que as coisas ficavam mais fáceis quando crescíamos, mas parece que é exatamente o contrário. Temos aquela ilusão de que rapidamente encontraremos o emprego dos sonhos, conquistaremos a tão sonhada independência, cruzaremos com o amor da nossa vida na esquina mais próxima, faremos todas as viagens que sempre sonhamos. Tudo será tão perfeito quando chegarmos à idade adulta – é o que pensamos.

Sim, de fato muitas coisas melhoram mesmo. Mas quer saber a verdade? Aquilo que ninguém te conta quando você tem só uns doze anos de idade e não vê a hora de fazer dezoito. Eu te conto. Ser adulto não é brincadeira. Não digo isso só pelas responsabilidades que vem com a idade, mas pelas cobranças também. E não me refiro às cobranças dos outros, mas, principalmente, às nossas próprias cobranças.

Crescemos e queremos conquistar o mundo num passe de mágica, nos esquecendo de que tudo leva tempo. Não temos paciência para esperar até amanhã e ficamos completamente frustrados se as nossas metas não saem do papel. Frustrados se o emprego dos sonhos parece inatingível, se a independência parece escorrer pelas mãos, se o grande amor não está em nenhuma esquina, se as rotas de viagem agora parecem tão distantes. Somos jovens e queremos tudo para ontem. Temos a sensação de que a vida está passando e não estamos conquistando tudo aquilo que listamos aos doze anos de idade.

Não é verdade. Fica tranquilo que as coisas se ajeitam. A vida adulta é difícil justamente por esse motivo. Dizem que ser gente grande exige ter planos, metas e objetivos bem traçados. Não sei se concordo com isso. Acho que, na verdade, o que todo adulto realmente precisa é encontrar uma paixão. Algo que o mova todos os dias. Dizem que isso deve ser encontrado na profissão, mas também não sei se concordo muito. Quantas pessoas fazem faculdade de direito e acabam atuando com veterinária? Ou vice-versa.

Não há data certa para descobrimos qual é a nossa paixão. Precisamos de tempo para isso. Para alguns, ela aparece na infância. Para outros, apenas lá pelos quarenta. E só depois que encontramos nossa paixão que os planos e metas ficam mais claros. Até lá parece que estamos em meio a um grande nevoeiro que nos impede de enxergar o que realmente precisamos fazer.

Pois é, ser adulto não é brincadeira. É gostoso a maior parte do tempo, mas não nego que exige muito. A verdade é que, ao ouvir jazz essa semana, comecei a pensar nas saudades que eu tinha da minha vida de criança. Não tinha emprego para procurar, amor pelo qual sofrer, nem planos em longo prazo. Só me importava ser feliz uma vez por dia, ir para a escola, brincar e voltar para casa. E sabe que pensando nisso, acabei me dando conta de uma coisa que parece não mudar nunca. Crianças sempre choram quando precisam se despedir de alguém, seja da mãe no primeiro dia de escola, ou do amiguinho que vai mudar para outra cidade.

Acabei percebendo que tem algo que nunca muda: a dor de dizer adeus. Não importa o quanto crescemos e amadurecemos, nunca aprendemos a dizer adeus para quem amamos. Nunca aprendemos a deixar as pessoas partirem sem sentirmos uma pontada de dor na despedida. Podemos envelhecer quantos anos forem, ainda não ensinaram uma maneira indolor de nos despedirmos de quem amamos e, muito menos, de lidarmos com as saudades sem sofrimento. É, me parece que algumas coisas não mudam nem com a idade e a saudades é uma delas.