Incertezas

cronicas
Bruna Cosenza
31 de maio de 2024

Acho bonito essas pessoas que vivem cheias de certezas.

Sentada à beira do mar em uma quarta-feira de manhã, enquanto desfruto de merecidas férias, a minha única certeza é que amanhã tem macarrão a bolonhesa para o almoço.

Adoro chegar cedo à praia porque é o horário em que a faixa de areia está maior. Lá no fundo, o mar. Preciso caminhar muitos passos para encostar os pés na água. E que delícia é a sensação de encontro entre o meu corpo e a natureza.

Pego uma cadeira e coloco na beirinha para me sentir mais perto da imensidão azul. As ondas em movimento constante são um belo e saudável lembrete de que tudo o que se forma com imponência e certeza também se desmancha em algum momento. Quando chegam à beira, só resta a espuma das ondas e o aspecto é outro. Talvez mais indefeso, mais humilde.

Nunca fui dessas pessoas cheias de certeza. Não sabia o que cursar na faculdade, fiquei anos perdida na profissão pela qual optei e duvido de muitas das minhas escolhas, com medo de que tenham sido resultado do que a sociedade me impõe sob um desejo disfarçado.

Sou um mar de dúvidas. Não me sinto imponente. Rodopio e mergulho pelas incertezas porque só sei ser assim. O desafio é não me deixar afogar.

Admiro o mar. Contemplo as ondas. Experimento o sal na boca. Cheiro a natureza. Sinto o vento me abraçar.

Não há certezas aqui. Posso acordar cheia de perguntas, mas quando passo o dia na companhia do mar, o pensamento que me atinge é que tudo se forma, tudo se perde. Mais importante é o que fazemos no meio do caminho, entre o caos das dúvidas e incertezas.