Carta para uma criança dos anos 90

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Bruna Cosenza
16 de outubro de 2016

Como iniciar uma carta para uma criança dos anos 90? Sinceramente, não sei se começo pelo lado bom ou ruim. Se começo contando algumas das coisas maravilhosas que irá vivenciar, ou se preparo para tudo que provavelmente irá causar decepção.

Acho que começarei sendo sincera: não será fácil. Como em qualquer outra época e lugar, haverão coisas incríveis que irão te maravilhar, assim como coisas que farão você desejar ter nascido em outra década. O segredo (e aqui vai a minha primeira dica) é tentar tirar proveito de toda e qualquer experiência, pois só assim você será capaz de determinar o que é bom e ruim para você.

Bom, vamos começar com o meu tópico preferido: relacionamentos. Se você é uma criança nos anos 90, então será um adolescente nos anos 2000 e preciso te preparar para isso, pois não será fácil. Até a sua adolescência os relacionamentos já terão atingido o que chamamos de “máxima flexibilidade” e garanto que não será tão fácil assim encontrar alguém para se apaixonar e construir uma história. Mesmo assim, haverão poucos e bons insatisfeitos com toda essa liquidez, que estarão por aí atrás de alguém que também acredite no amor romântico.

Ao mesmo tempo, você ficará encantado pelo mundo de possibilidades que vai se abrir diante dos seus olhos. Por mais que essa flexibilidade possa ser prejudicial em alguns aspectos, também te proporcionará uma sensação de liberdade em diversas esferas que vão além dos relacionamentos. Quando o assunto é profissão, você será inundado por um mar de possibilidades tão grande que se sentirá perdido, mas terá muito mais motivação e força para seguir carreiras incomuns, como por exemplo, aquelas que envolvem alguma arte.

Mas falando em profissão, confesso que a sua geração será um pouco, digamos, insatisfeita. Você provavelmente sentirá a necessidade de aliar trabalho ao prazer de qualquer forma e, por mais que isso seja incrível, pode se tornar um pouco frustrante também, pois nem sempre essa junção é simples.

Questionadores, imediatistas e revolucionários. Você perceberá que os jovens da sua idade chegarão para lutar. Perceberá uma crescente onda de movimentos, incluindo o feminismo, e aprenderá a desconstruir uma ideia muito ultrapassada sobre o que é ser mulher. Aliás, você será impactado constantemente por amigos discutindo suas opiniões sobre os mais diversos assuntos no Facebook. Se isso é saudável? Ainda tenho minhas dúvidas, mas a tendência é que, cada vez mais, as redes sociais se tornem um grande centro de polêmica e discussões.

E por último é importante saber que, ao longo dos anos, você criará asas. O engraçado será perceber que a maioria dos seus amigos também serão assim, pois vocês fazem parte de uma geração que nasceu para voar. Será difícil ficar em casa vendo a vida passar, pois você saberá que o mundo é enorme e fará de tudo para desvendá-lo com as suas próprias mãos. Pode até ser que você mude de endereço muito mais cedo do que imagina e decida desbravar esse mundão antes mesmo de chegar aos 25.

Olha, confesso que não sei se tudo isso te animou ou desanimou para o futuro, mas garanto apenas uma coisa: será uma jornada cheia de descobertas. Você terá sorte de fazer parte de uma geração de jovens que luta pelo o que quer e tem coragem de sair pelo mundo. Ou melhor: uma geração que tem muito mais oportunidades do que tantas outras do passado. Valorize isso. Valorize tudo o que você conquistar. No entanto, não aceite tudo de cabeça baixa e não deixe de questionar os próprios valores que você e outros jovens ajudaram a construir, pois garanto que nem tudo acabou indo para a direção certa. E, acima de tudo, viva. Viva intensamente, pois essa será a única garantia de que tudo valeu a pena.