Carta para os que se lembraram de um antigo amor (2)

cartas
Bruna Cosenza
9 de dezembro de 2015

Primeira carta aqui.

Renato,

Não sei direito o horário ai no Brasil, mas por aqui já passou da uma da manhã. Acho que você não ficou sabendo, mas estou morando em Paris há algumas semanas. Finalmente tomei coragem para fazer o que sempre quis: seguir meu caminho. Confesso que olhei para trás algumas vezes, mas não me arrependo e não tenho data para voltar.

As pessoas aqui são diferentes, principalmente os homens. Ou talvez eu que ainda esteja acostumada com o seu jeito e fico achando que todos que não são como você são estranhos. Não sei se você vai querer saber sobre isso, mas estava saindo com uma pessoa antes de viajar e, em momento algum, hesitei por ele. Pensava mais em você do que nele quando estava comprando minha passagem. Foi nesse momento que me dei conta de que precisávamos terminar.

Sabe, acho que quando nos relacionamos com alguém, principalmente se for com intensidade, dificilmente nos apaixonamos por outra pessoa logo em seguida. Não entendo essas pessoas que pulam de um namoro para o outro. Acho tão difícil encontrar alguém que faça nosso coração pulsar mais forte. Esse garoto acabou sendo apenas mais um que eu gostei. Apenas isso. Gostei dele. Por isso não pensei duas vezes ao entrar no avião. A única pessoa que poderia me prender no Brasil seria você, mas como eu já não tinha notícias suas há tempos, sabia que estava na hora de uma nova aventura.

Confesso que fiquei surpresa com a sua carta, e mais surpresa ainda por você se lembrar daquele dia em seu apartamento. Aqui em Paris também fico olhando as luzes acesas e imaginando quem são os moradores das casas e o que estão fazendo. Me parece que mesmo com os quilômetros que nos separam, continuamos com as mesmas manias. Esquisito, né?

Senti uma coisa estranha quando li tudo o que você escreveu. Não foi como nas outras vezes em que uma faísca se acendeu dentro de mim e eu acreditei que poderíamos nos reencontrar. Talvez seja porque, dessa vez, eu sei que isso é matematicamente impossível de acontecer.

Mesmo que nunca tenhamos visitado Paris juntos, praticamente tudo aqui me faz lembrar de você. Deve ser porque sempre falávamos de coisas que queríamos fazer aqui. Aliás, fui à Shakeaspeare and Company outro dia. Você iria adorar…

Mande notícias quando der.

Com amor,

Camila.