Carta para os que precisam colocar um amor para fora
Rodrigo,
Se eu estivesse escrevendo uma carta de verdade para você e não apenas rascunhando escritos às três horas da manhã, eu provavelmente te contaria como as minhas memórias de nós dois me pegaram de surpresa nessa madrugada.
É esquisito como essas coisas acontecem sem que a gente nem perceba. Estava aqui revirando na cama de um lado pro outro com pensamentos aleatórios e, de repente, me lembrei de qualquer coisa que me levou até você. Achei esquisito. O último final de semana até que tinha sido agitado o suficiente para ocupar minha cabeça, mas por algum motivo você resolveu aparecer por aqui.
Quando me dei conta já estava lendo aquelas coisas todas que eu costumava te escrever quando você ainda era meu e percebi que já não faço mais ideia de por onde você anda. Já não sei mais dizer se você ainda mora no mesmo endereço, se ainda usa aquela camiseta azul listrada, se ainda gosta de comprar livros e ir naquele cinema na Paulista. Nos minutos seguintes parei para pensar se eu realmente sentia falta de saber todas essas coisas. Foi estranho quando não consegui responder essa pergunta.
Por alguns segundos refleti sobre o tempo em que eu sabia seus passos, seus gostos, suas vontades e me dei conta de que são tempos tão distantes que já nem sei mais se sinto falta de você ou apenas do que você me fazia sentir. Nessa confusão toda que a gente vive com o fim de um relacionamento, às vezes acabamos perdendo a noção do que precisamos de verdade e do que achamos que precisamos, mas que não passam de meros caprichos.
Se eu estivesse escrevendo uma carta de verdade para você provavelmente diria algumas coisas mais bonitas e, quem sabe, até te chamaria para tomar um café no sábado à tarde. Mas provavelmente eu também te contaria que chorei de saudades outro dia e você sentiria culpa demais para voltar atrás, afirmando que a gente não pode se envolver.
Mas já que não é uma carta de verdade acho que eu posso deixar tudo isso aqui desse jeito meio maluco que só você entende. Pode ser até que numa quarta-feira chuvosa qualquer eu crie coragem o suficiente para te enviar, ou então essa será apenas mais uma daquelas cartas que a gente escreve e nunca envia.
Agora que já consegui traduzir em palavras tudo o que estava transbordando em meus pensamentos, quem sabe eu consiga dormir um pouco. Afinal, talvez eu não estivesse precisando de você. Talvez eu só estivesse precisando escrever um pouco para colocar você pra fora.
Com amor,
Marcela.