Carta para os que ainda amam (3)
Felipe,
Hoje estava arrumando a bagunça no meu quarto e dei de cara com o seu livro. Você me emprestou para ler e eu nunca consegui passar da página 40. Desde então, ele fica no meu criado-mudo junto com a pilha de livros que eu vivo lendo e relendo. Já pensei algumas vezes em te devolver, mas você nunca pediu e, para falar a verdade, eu não quero devolvê-lo. Pelo menos não agora.
Preciso te contar… Eu te vi no fim de semana passado. Nós dois sabíamos que iríamos para o mesmo lugar e quando eu estava na fila, prestes a entrar, vi seu carro parado no farol. Cheio de gente, eu logo imaginei que eram seus amigos. Rapidamente desviei o olhar, não acreditando muito que você ainda existia. Sabia que poderíamos nos esbarrar por lá, mas não achei que te veria assim. É lógico que eu não ia sair feito uma louca até o carro para te chamar, mas sei que poderia ter te ligado ou mandado uma mensagem perguntando aonde você estava, já que não nos encontramos depois.
Acontece, Felipe, que eu não te procurei por dois motivos. Primeiro, porque meu orgulho também estava berrando naquela noite. Por que eu deveria te procurar? Você também sabia que eu estaria lá. Segundo, e se você não quisesse que eu te procurasse? A noite acabou não sendo das melhores, mas consegui me divertir um pouco. No dia seguinte, pensei em você.
Cada vez mais, estou deixando de esperar por um sinal de vida seu. E, cada vez menos, tenho tido aquela coragem para te procurar, como eu fazia antigamente. Não sei se isso é superação ou, simplesmente, conformidade com a situação. Às vezes, tenho a sensação de que nós não passamos de um mero sonho, pois a falta de sinais concretos me tira um pouco a noção do que é real e do que não é.
Foi estranho, admito. Mais estranho ainda, agir como se eu não me importasse. É o que eu mais tenho feito ultimamente. Não sei até que ponto isso é bom. Eu, que sempre vivi tudo tão intensamente e não via problemas em demonstrar meus sentimentos para todos, tenho me sentido, cada vez mais, uma borboleta no casulo.
Não sei o que esperar. Talvez, eu esteja pronta para não esperar nada. Como dizem: “Quem muito se ausenta, uma hora deixa de fazer falta”.
Não espero mais respostas, não se preocupe.
Manuela.