As coisas mais sinceras que sentimos são as mais difíceis de colocar para fora

cartas
Bruna Cosenza
5 de junho de 2017

Eu provavelmente nunca te contei isso, mas sinto uma saudade danada quando a gente fica muito tempo sem se ver. Fico me lembrando das nossas risadas, dos nossos momentos e até mesmo das nossas brigas. Fico me perguntando se você está bem ou se aquele problema da semana passada ainda está tirando as suas horas de sono. Fico me culpando porque não estou lá para perguntar como foi o seu dia. Fico me preocupando com as suas dores nas costas que não passam por nada nesse mundo.

Eu provavelmente nunca te contei isso, mas eu me orgulho tanto de você. Às vezes, deixo cair uma lágrima ou outra porque sinto que o tempo está escorrendo pelos meus dedos e não estou te aproveitando com tudo o que há dentro de mim. Eu sei que não sou mais uma criança e, cada dia que vivemos em direção ao futuro, é um dia a menos no nosso calendário de momentos juntas.

Eu provavelmente nunca te contei isso, mas eu penso muito em você. Não há um dia que não te transmita boas energias. Até quando cada uma de nós está no seu próprio quarto assistindo televisão e vendo os ponteiros do relógio passarem, eu estou pensando em você. No fundo, sei que não vai ser para sempre que terei a oportunidade de ver um programa de televisão ao seu lado. Então, por que eu ainda desperdiço pequenos momentos que poderíamos compartilhar?

Eu provavelmente nunca te contei isso, mas sinto falta do seu colo. Não existe abraço mais confortador do que o seu. Às vezes, tudo o que eu mais quero é que chegue o dia de te ver só para te abraçar e te sentir comigo de novo. Por mais que eu não demonstre o tempo todo, você sempre foi e sempre será o meu maior ninho de segurança.

Eu provavelmente nunca te contei isso, mas algumas músicas me lembram você. Quando estou dirigindo e elas começam a tocar, você é a primeira imagem que vem na minha cabeça. Não consigo evitar e sorrio. E sorrio do mesmo jeito quando falo de você para alguém: com o maior orgulho de saber que tudo o que sou é fruto da sua dedicação.

Eu provavelmente nunca te contei isso, mas às vezes tenho medo de crescer porque não quero te perder. Fico com a sensação de que quanto mais os anos passam, mais a vida cria novas rotinas que nem sempre continuam girando em torno de você. E tudo isso me causa uma sensação de culpa, como se eu estivesse abandonando a pessoa que sempre foi tudo para mim. No fim das contas eu sei que nenhuma de nós é culpada, mas não é fácil encarar as mudanças que chegam.

Eu provavelmente nunca te contei isso tudo porque as coisas mais sinceras que sentimos são as mais difíceis de colocar para fora. Ou talvez porque eu tenha medo de que a gente se derrame em lágrimas como estou fazendo agora, pensando que já se passaram 23 anos desde o dia em que eu conheci a única pessoa que tenho certeza de que jamais desistirá de mim: você. E, então, vamos relembrar aquelas viagens que fizemos na minha infância, das festinhas de aniversário lá em casa, dos momentos difíceis na minha adolescência, das descobertas e ensinamentos que vivemos juntas, e iremos sentir que a vida está passando rápido demais. E no fim ficará apenas a sensação de que vivemos um grande flash – mas um flash maravilhoso do qual não nos arrependemos de nada e do qual temos certeza de que levaremos apenas coisas boas e amor, muito amor.