[#1] Para onde vai a chama da escrita quando ela se apaga?

caneta-solta
Bruna Cosenza
20 de maio de 2023

É sábado de manhã. Outono. Faz frio com céu azul lá fora, a minha estação preferida do ano.

A varanda do meu apartamento está apenas com a frestinha da porta aberta para permitir a entrada de uma pequena corrente de ar gelada que, ao fazer contato com o meu corpo, me proporciona uma sensação de paz e leveza. Gosto de manhãs assim.

Acordei com uma vontade surpreendente de escrever para mim, de compartilhar reflexões. E pensei: “por que não?”.

Depois de dar carinho para o meu cachorro, levá-lo para passear e colocar a ração, acendi um incenso, me sentei no sofá ainda de pijamas e, aqui estou, com o computador no colo, escrevendo. E não é para nenhum cliente, é para mim!

Fazia tempo que isso não acontecia. Uns breves escritos cá e outros lá, mas a vontade de escrever algo mais longo estava há muito tempo adormecida.

O que me faz lembrar de quando tudo começou, no meio da faculdade, por volta de meados de 2013 se não me engano. Foi o meu coração partido que despertou a vontade de criar um blog, o tão querido Para Preencher (que deixou de existir em 2022).

Por lá, compartilhei as minhas primeiras reflexões sobre amor e comportamento humano. Na época, era tudo muito visceral e dramático, transbordando dor e angústia. Foi bom, acho que os meus textos mais bonitos nasceram naquele período.

E continuei… Escrevendo no blog, no LinkedIn e até mesmo criando meus projetos literários (dois livros publicados pelos quais tenho muito carinho).

Foi em 2019 que tudo começou a mudar. A decisão de trabalhar com a escrita, como produtora de conteúdo freelancer, me fez criar uma nova relação com o ato de escrever. A partir daquele momento, as palavras se tornariam trabalho, meu ganha-pão. No início, não senti tanto o impacto, mas aos poucos tudo foi mudando.

Quando transformamos em trabalho algo que amamos e fazemos por hobby, é difícil manter a mesma conexão com aquilo que antes era apenas paixão.

Alguns dias, escrevo 3, 4 ou até 5 mil palavras para meus clientes. Termino o dia cansada e a última coisa que desejo é escrever mais, mesmo que seja para mim. E, com isso, vou deixando sempre para depois.

O que antes era uma chama ardente dentro de mim, que me fazia abrir o computador e escrever todas as semanas, foi se tornando um fiapo de luz.

Os “conteúdos racionais” continuaram, afinal, eu preciso me manter ativa, principalmente no LinkedIn, para manter a atração de oportunidades e clientes. Mas aqueles escritos sobre a vida, que nasciam de reflexões internas profundas, foram se tornando cada vez mais raros. Ainda existem, mas exigem mais para nascer.

E o mais importante: perdi a minha rotina semanal de escrita. Perdi o desejo, a vontade. Perdi a chama da escrita que fazia morada em mim.

Por um tempo, deixei de lado, tentei ignorar. Parecia mais fácil. Mas, às vezes, me deparava com um mix de culpa e saudades.

“Quero voltar a escrever para mim! Quero voltar a ter vontade de escrever para mim!”, uma voz gritava aqui dentro.

Até me questionei se a fase da escrita tinha passado, se era hora de desbravar outras formas de expressão. Mas o curioso é que continuei escrevendo para mim, só que fora dos meios digitais. No meu caderno (o meu querido journal), o hábito se manteve com frequência.

O problema foi aqui. O blog. A rede social.

Já escrevi tanto por aqui, que, às vezes, parece que não tenho mais nada a dizer. Ou que reflexões soltas e esporádicas, de tempos em tempos, são o suficiente.

Fiquei esperando a chama voltar, com fé de que um dia ela bateria na minha porta novamente. Hoje, acordei com vontade de escrever, com várias ideias de reflexões interessantes.

Sem intenção de venda, SEO ou autopromoção. Só escrita pura mesma, do jeito que eu fazia em 2013, quando era apenas uma inocente publicitária em formação. O objetivo sempre foi levar as minhas palavras a mais pessoas, inspirá-las e ajudá-las de alguma forma. Sentir que o aquilo que escrevo não é relevante apenas para mim e tem o poder de promover conexões reais. O poder de preencher.

É isso o que pretendo fazer nesse espaço, que nomeei “Caneta solta”. Sendo sincera, nem sei se é um bom nome, mas foi o que me veio à mente na última noite e resolvi abraçá-lo.

É caneta, porque apesar de estar escrevendo no computador, sou amante da escrita à mão. E é solta porque é livre, sem nenhum objetivo específico, além de compartilhar quem eu sou, o que sinto e os meus sonhos.

Espero que seja um sinal de que a chama está voltando.

Seja bem-vindo(a) e fique à vontade!