[#4] O que está por trás da exaustão mental das mulheres?

caneta-solta
Bruna Cosenza
10 de junho de 2023

Desde pequena, vi a minha mãe como responsável por praticamente todas as tarefas domésticas. Mais do que isso: responsável por fazer a gestão da casa.

De vez em quando, a ouvia reclamar que estava cansada, mas não conseguia entender o que ela estava querendo dizer. Para mim, era só um cansaço bobo que passaria após uma boa noite de sono.

Há menos de 1 ano, saí da casa dos meus pais para morar com o meu parceiro e, enfim, depois de 28 anos, entendi o que era esse cansaço da minha mãe.

Vivemos em uma triste sociedade machista, em que, desde novas, as meninas são ensinadas a cozinhar, limpar, pendurar roupa e arrumar a casa. Eu mesma me lembro de vários momentos em que a minha mãe me chamou para ajudar ou aprender como se fazia alguma dessas coisas.

Eu ia, observava, perguntava e aprendia, sem ter consciência de que tudo aquilo estava me moldando para que, um dia, eu gerisse a minha própria casa.

Tenho certeza de que o mesmo jamais teria sido ensinado a um menino. E é isso o que acontece em 90% dos famílias. Meninas aprendem ofícios da casa, meninos não.

E, assim, vamos perpetuando a ideia de que a mulher é a responsável por fazer a gestão de uma um lar.

Sei que tenho apenas 29 anos e muito o que aprender, mas já sei de onde vem pelo menos parte da exaustão mental com a qual eu e boa parte das mulheres adultas convive diariamente.

Quando fui morar sozinha, subestimei muito o quão difícil e cansativo seria. Foi apenas ao começar a viver essa rotina que passei a sentir na pele, de verdade, o que ouvia tantas mulheres falarem, mas até então não levava muito a sério.

Sim, aprendi a fazer todas as coisas que as meninas fazem: cozinhar, limpar, organizar… Mas não é só isso: aprendi e internalizei que eu sou a pessoa que deve garantir que tudo seja feito para manter a rotina da casa funcionando.

Não sejamos injustas, alguns homens já estão desconstruindo tudo isso, mas o caminho ainda é longo… A maioria assume o papel de “ajudante”, mas não é isso o que queremos.

Precisamos de homens que, desde a infância, sejam ensinados que são tão responsáveis quanto as mulheres por gerir um lar. Não basta lavar a louça, tirar o lixo e cozinhar quando são requisitados. É preciso ter uma mentalidade de gestão e organização.

Boa parte da exaustão mental feminina nasce do fato de que sabemos que se não fizermos tal gestão, as coisas simplesmente não serão feitas. De certa forma, é como se os homens tivessem a opção de não fazer, mas nós não. Porque, infelizmente, fomos ensinadas que esse é o nosso papel.

E o ciclo vicioso só será quebrado quando, desde pequenos, meninos e meninas forem ensinados de forma igualitária sobre as responsabilidades e tarefas do lar. Assim, quando adultos, não precisarão discutir sobre coisas aparentemente tão triviais, mas que, na realidade, ressaltam os dolorosos sintomas de uma sociedade extremamente machista.

Da mesma forma que eu não entendia o cansaço da minha mãe até me tornar dona do meu próprio lar, entendo porque a maioria dos homens não consegue compreender a exaustão mental com a qual convivemos diariamente.

A empatia é uma das habilidades mais difíceis de se desenvolver, porque exige que você saia do seu papel e se coloque no lugar do outro. É sobre sentir a dor alheia sem julgar, apenas acolher. Cara, como é difícil…

Respondendo à pergunta deste texto, acredito que, além da preocupação excessiva proveniente dessa gestão constante, por trás da exaustão mental das mulheres também haja frustração. É muito doloroso ser obrigada a viver em uma sociedade que dita quem você deve ser ou o que precisa fazer. E ainda mais frustrante aceitar que questões tão enraizadas como estas não mudam da noite para o dia.

Mas cabe apenas a nós começar o quanto antes a quebrar esse ciclo para que as nossas filhas, netas e bisnetas vivam em um mundo mais justo, leve e igualitário. Para que elas não precisem passar pelas mesmas dores que nós, e possam ter “a opção de não fazer” sempre que desejarem, porque sabem que, ao lado, há um homem que assumirá as funções da casa sem que elas precisem pedir.