Este é o sétimo texto sobre aprendizados e reflexões durante o meu período morando em Madrid, em outubro de 2023.

Uma das minhas preocupações constante é construir uma vida da qual eu me orgulhe, alinhada à minha essência e, principalmente, em que tive a oportunidade de vivenciar as experiências que desejo, sejam elas quais forem.

Diante disso, o meu grande medo é chegar ao final da vida com a sensação de que não fiz nada do que queria. Com o sentimento de que apenas batalhei para sobreviver.

Por mais que a nossa existência seja repleta de dificuldades e dores, para mim não faz sentido nenhum cultivar uma vida pautada apenas por sofrimento e com poucas realizações.

Morar em Madrid é resultado de todos esses sentimentos e crenças.

Desde a primeira vez que vim para a Europa, aos 20 e poucos anos, tenho esse sonho e um medo enorme de nunca conseguir realizá-lo. Um medo de chegar ao final da vida com a sensação de incompletude por não ter experimentado morar em outro país.

Sim, se eu pudesse, ficaria 6 meses ou 1 ano, mas o que coube na minha realidade atual foram 5 semanas e, por ora, está muito bom.

Foram tantos desafios para chegar até aqui. Desde anos e anos esperando o momento certo financeiramente até o fortalecimento da minha autoconfiança.

Diante da realização dessa vontade tão grande e que está alinhada à minha paixão pela liberdade, uma das reflexões que tem me perseguido nas últimas semanas é sobre as pessoas que vivem à sombra de suas limitações.

E mais: pessoas que não têm nem consciência sobre todas as suas limitações.

Pense em quantos indivíduos você conhece que circulam pela vida sem autoconhecimento o suficiente sobre o que precisam desenvolver?

Assim como qualquer um, tenho as minhas limitações e, em alguns momentos, sei que elas precisam ser respeitadas. Mas não aqui. Não em Madrid. Não onde escolhi ir muito além dessas limitações das quais tenho total consciência e que precisam ser vencidas. Onde escolhi provar para mim mesma que dar conta do recado não é tão difícil quanto eu imaginava.

Sempre vai ser mais fácil viver à sombra das nossas limitações. Não se arriscar por sempre ter alguém ao lado para fazer as coisas por você. Alguém que supre as suas inseguranças por conseguir colocar a cara a tapa enquanto você continua apenas cultivando os seus medos.

As semanas que passei por aqui me obrigaram a não ser a sombra de ninguém e foi algo maravilhoso de experimentar.

Em sete dias, volto para o Brasil. Muitos sentimentos e questionamentos fazem morada nos meus pensamentos, mas, com certeza, não levarei para casa nenhuma das limitações e inseguranças que acreditava ter.

Elas não fazem mais parte de mim e, entre tantas dúvidas que ainda carrego, ao mesmo tempo tenho uma única certeza: jamais viverei à sombra das minhas limitações, pois essa é a única forma de construir uma vida da qual eu me orgulho, em que experimentei tudo o que desejava — pelo menos até o meu último suspiro.