Vilém Flusser: nos comunicamos para esquecer a morte.
Uma das discussões do filósofo Vilém Flusser gira em torno da questão da comunicação. Afinal, por que nos comunicamos? Flusser é direto e, na minha opinião, bem certeiro: nos comunicamos para esquecer a morte. Mais do que uma troca de informações, a comunicação é um dos fatores que torna possível viver sem que se pense constantemente na morte inevitável e na falta de sentido da nossa existência. Criamos códigos, resultando em um mundo codificado, que tem por objetivo fazer com que esqueçamos que este consiste em um tecido artificial que esconde uma natureza sem significado.
Com a criação da cultura, o homem busca um meio de se liberar do medo da morte, como por exemplo, com a religião, que busca um significado para a vida. No entanto, assim também se cria uma nova forma de dependência. Por trás de toda essa cultura inventada pelo próprio homem – religião, arte, literatura, filosofia – não há nada mais do que uma busca intensa por um sentido. Uma tentativa de nos comunicarmos, criarmos laços, pontes, relações, de tal forma que a existência não se conclua como algo tão absurdo e sem significado. Isso nos protege do tão temido contato com o “abismo”, no entanto, há sempre aqueles que entendem tudo isso como uma mera ilusão para apenas tornar essa trajetória mais fácil até o momento de encontro com o inevitável – a morte.
Após me deparar com a teoria de Flusser, comecei a realmente pensar se para mim ela fazia sentido. Refleti sobre o verdadeiro espaço que a comunicação ocupa em nossas vidas e me dei conta de que apenas pelo fato de estar escrevendo esse artigo já estou me comunicando, buscando um sentido para tudo isso.
Nossas conversas diárias, sejam estas papos bobos de botequim ou discussões filosóficas em um domingo à tarde, todas parecem nos levar exatamente ao caminho apontado por Flusser. Como viver 20, 40, 60 ou 80 anos sem nenhum tipo de comunicação? Indivíduos que vivem em grupo ou os mais isolados – a meu ver todos encontram uma forma de se comunicarem, seja com o outro ou com si mesmos. Basta ver personagens como do filme “O Náufrago”, em que uma bola se torna um meio de comunicação.
De certa forma, me parece que se o homem não se comunica, ele sucumbe à loucura. Há aqueles que não se importam em viverem mais solitários e acabam criando laços fortes com caneta, papel e pensamentos profundos, dialogando mais com si mesmos do que com os outros. Enquanto isso, alguns preferem matar o tempo com conversa fiada ou então, com um papo mais denso e complexo, optando por uma comunicação acompanhada.
Viver cada dia pensando sobre uma morte incontrolável seria mais do que insuportável. Para viver precisamos esquecer. Para esquecer precisamos nos comunicar. Flusser deixa claro que o homem não é uma ilha. Ele precisa do outro. Há, com certeza, um significado para tudo e não poderia haver um mais belo e interessante para a comunicação do que este: esquecer o destino inevitável de todos. Até porque, tenho certeza de que ninguém quer conversar com a morte tão continuamente.