Por que esperamos o caos para falar sobre saúde mental?

autoconhecimento
Bruna Cosenza
20 de maio de 2020

Desde o ano passado eu atendo um cliente que tem como missão democratizar o acesso à psicoterapia. A empresa foi pioneira no que diz respeito à psicologia online no Brasil. Contribuir para a missão da Vittude tem sido muito interessante, principalmente neste momento de pandemia que estamos vivendo. Saber que de alguma forma faço parte deste movimento para que mais pessoas cuidem da saúde mental é muito gratificante.

Ao produzir conteúdos para a Vittude também estou o tempo todo lendo e aprendendo sobre o universo de bem-estar e saúde mental. Justamente por isso tenho me perguntado bastante o seguinte: por que esperamos o caos para falar sobre saúde mental?

Não me entenda mal, não quero dizer que antes da pandemia as pessoas não estavam nem aí para o assunto. Mesmo assim, não podemos negar que foi no momento de crise que tanto pessoas como empresas passaram a se preocupar ainda mais em cuidar do bem-estar psicológico.

O crescimento da Vittude e de outras startups de psicologia online neste momento comprovam o que estou dizendo. É claro que isso é maravilhoso, afinal, diante de estudos que apontam que os casos de depressão e ansiedade estão aumentando durante a pandemia, é importante cuidar da saúde mental. Mesmo assim… Tudo isso despertou em mim algumas reflexões que gostaria de compartilhar com vocês!

É aquele velho ditado “só damos valor quando perdemos”

Não podemos negar que ainda existem muitos tabus em relação à saúde mental. Muita gente infelizmente ainda não tem clareza sobre a importância e os benefícios da psicoterapia.

Não, terapia não é coisa de louco!

Todo mundo tem questões pessoais e pontos a desenvolver que podem ser trabalhados junto de um psicólogo. Você não precisa ter ansiedade excessiva, depressão ou estar sofrendo com um burnout para procurar um psicólogo.

A sensação que eu tenho é que se a Covid-19 não tivesse atravessado as nossas vidas violentamente, as pessoas e empresas não teriam acordado para a importância dos cuidados com saúde mental. É como naquele ditado que diz que “só damos valor para algo ou alguém quando perdemos”.

Em um momento crítico em que as pessoas estão lidando com um contexto de vida atípico, incerto e assustador, elas percebem que precisam de auxílio psicológico para enfrentar as adversidades. E que bom que perceberam, não é mesmo?

O meu objetivo não é dizer que existe um problema aqui. Pelo contrário! Estou achando maravilhoso que mais pessoas procurem a terapia para superarem as dificuldades durante a quarentena. O meu ponto é…

Por que esperamos o caos para acordarmos para a vida?

Estou falando de saúde mental, mas acredito que o propósito do texto se aplique a outras esferas também. Afinal, o que eu quero levantar de questionamento aqui é muito claro. Quero que você que está lendo se pergunte:

Por que esperamos o caos para valorizarmos a vida?

Por que esperamos o caos para entendermos que cuidar da saúde mental é essencial?

Por que esperamos o caos para valorizarmos a liberdade de ir e vir?

Por que esperamos o caos para enxergarmos o quão frágeis somos?

Por que esperamos o caos para valorizarmos momentos com quem amamos?

A saúde mental é apenas um dos pilares que parece ter despertado neste momento de crise. Ao mesmo tempo as pessoas estão se questionando sobre tudo o que não valorizavam tanto antes da pandemia. No fundo, foi preciso emergir o caos para que despertássemos.

E faz sentido, sabe! O ser humano tem a tendência de se acomodar. Deixamos as coisas bonitas da vida passarem despercebidas; esquecemos de valorizar a simplicidade; não dizemos “eu te amo” pelo medo da vulnerabilidade.

Aí vem um momento de dor e caos e BUM! Caímos na dura realidade mais uma vez. E não precisa ser o coronavírus. Às vezes são outros fatos da nossa vida que nos fazem despertar. Sabe aquela história que as pessoas que ficaram à beira da morte contam sobre como renasceram?

Acho que é meio isso o que estamos vivendo (e que vivemos várias vezes ao longo da vida). O caos desperta medo e o medo desperta a vontade de viver. E quando a vontade de viver é muito grande, acordamos para a vida. Despertamos de vez!

E o que vem depois do despertar?

O meu medo é que depois da pandemia, ou seja, depois deste grande despertar, tudo volte a ser como antes. É claro que vão ficar marcas, cicatrizes e lembranças. Mas será que realmente acordamos ou foi apenas um choque passageiro?

Será que quando a pandemia chegar ao fim e a nossa vida voltar aos poucos à antiga normalidade, nós nos esqueceremos da importância da saúde mental, da fragilidade da vida, de valorizar momentos com quem amamos?

Uma hora ou outra a rotina vai voltar, as preocupações banais vão dominar a nossa mente e estaremos mais preocupados com o rolê de sexta-feira do que com o número de leitos disponíveis na UTI.

Será que vamos voltar a ser quem éramos antes de tudo isso? Ou será que, enfim, esse despertar realmente será capaz de provocar o nascimento de pessoas mais conscientes e empáticas?


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