Cansei de mim mesma. E agora?
Acordei me sentindo esquisita naquele dia. Levantei da cama ainda meio cambaleando e fui até o banheiro. Quando me olhei no espelho, fiquei com raiva. Não estava satisfeita com a pessoa que me encarava do outro lado. Para falar a verdade, estava completamente de saco cheio daquela garota. E eu não me referia a uma questão de aparência física. Tudo bem, talvez eu estivesse mais feliz se meu cabelo fosse mais brilhante, mas a real é que eu estava cansada de quem aquela garota era por dentro.
Eram muitos sonhos incompletos, muitos planos interrompidos, muitas ligações com amores do passado, muita vontade e pouca concretização. Resumindo: era muito “eu quero”, para pouco “eu fiz”. Ultimamente a única coisa que aquela garota sabia fazer era reclamar. Reclamava do trabalho, do paquera da noite anterior que sumiu sem dar explicações, das amigas que nunca tinham tempo para sair, da família que só cobrava coisas que ela não queria fazer… Que preguiça daquela garota. Reclama tanto, mas não faz nada para sair do lugar. Exige movimentação, mas parece uma estátua.
Fiquei alguns minutos encarando-a no espelho do banheiro. Eu sabia que aquela não era eu, afinal, eu nunca tinha sido daquele jeito. Não sabia o que estava acontecendo. Parecia que, de alguma forma, alguém tinha assumido o controle da minha vida e substituído o meu verdadeiro eu por alguém que eu detestava. Estava cansada de mim mesma. Pois é, não me aguentava mais.
Mas, tudo bem, pois acredito que era preciso chegar até aquele ponto. Eu precisava acordar cambaleando naquela quinta-feira, me olhar no espelho, e me odiar por alguns minutos. Talvez, se aquilo nunca tivesse acontecido, eu ainda estaria estagnada, reclamando e esperando alguma coisa que nem eu sei o que é. Depois que todos aqueles pensamentos me invadiram, lavei meu rosto, e abri os olhos novamente. Foi esquisito. Como se num passe de mágica eu já soubesse o que precisava fazer.
Estava de saco cheio daquela garota do espelho porque ela estava parada no tempo. Ela não se movia para ultrapassar os obstáculos, ela só sabia reclamar. Parecia a garota mimada que eu juro que nunca fui em minha vida. Tudo bem, quando abri os olhos depois de tudo aquilo, eu já não me odiava mais. Eu já tinha consciência de tudo. É esquisito como um momento de impacto pode mudar completamente as coisas. Às vezes, esperamos tanto tempo por algum esclarecimento, e ele aparece quando menos esperamos. E isso até que é bom, pois o choque nos faz cair na realidade. Naquela manhã eu prometi que a imagem daquela garota desapareceria. Eu prometi que não me cansaria mais de mim mesma, pois todos os meus “eu quero” se transformariam em “eu fiz”. E foi exatamente isso o que aconteceu.