[#20] A resposta certa muda ao longo da vida

caneta-solta
Bruna Cosenza
6 de novembro de 2023

Este é o nono texto sobre aprendizados e reflexões durante o meu período morando em Madrid, em outubro de 2023.

A leitura que me acompanhou durante a minha estadia em Madrid foi “Bem-vindos à livraria Hyunam-dong”, da autora Hwang Bo-Reum.

Logo no começo do livro, uma frase me pegou de jeito e venho pensando sobre ela durante as últimas cinco semanas:

“A resposta certa muda ao longo da vida.”

Quando cheguei aqui, não fazia ideia do que me aguardava. O sonho de morar fora sempre existiu, mas não sabia se atenderia às minhas expectativas ou traria respostas muito diferentes do que eu imaginava.

E se eu descobrisse que morar no exterior é interessante, mas não o suficiente para mim? Ou se acontecesse de eu não me encontrar mais quando voltasse ao Brasil?

Hoje, 06/11/2023, estou voltando para casa e essa frase parece fazer mais sentido do que nunca. Viver a experiência de morar durante cinco semanas em Madrid nas exatas circunstâncias dessa viagem foi a resposta certa nesse momento. Daqui a alguns anos, talvez eu olhe para trás e pense que jamais viveria essa experiência novamente porque ela deixou de fazer sentido para mim.

A resposta certa, portanto, muda (e muito) ao longo da vida.

O que fazia sentido ontem nem sempre faz hoje. E o que trará significado para os meus dias no futuro nem sempre tem um sentido claro no momento atual.

Entre tantos aprendizados e reflexões, levo comigo o sentimento e a certeza de que hoje essa era a resposta certa.

Aconteceu tudo como eu imaginava? Longe disso. Expectativas foram quebradas? Com toda a certeza. Mas também tive a oportunidade de me descobrir de diferentes formas (principalmente o meu potencial de me virar sozinha em diversas situações), me encantar pela vida na Europa, superar medos e inseguranças, ir além de limites que um dia acreditei que jamais poderiam ser ultrapassados, ressignificar o papel de pessoas e lugares em minha vida, e por aí vai…

Ontem, tivemos a oportunidade de nos despedir da cidade com algumas taças de vinhos, conversas e risadas com pessoas conhecidas (e outras desconhecidas até então). Em uma dessas trocas ao longo do dia, um brasileiro que mora em Madrid há alguns anos me falou que não se enxerga voltando para o Brasil.

Costumo ter muita curiosidade para entender como é a vida a longo prazo por aqui e como as pessoas se sentem em relação a voltar para a cidade natal.

Segundo ele, a qualidade de vida que se tem na Europa é algo incomparável com a vida em São Paulo (e eu concordo totalmente em praticamente todos os aspectos). Mas, ao mesmo tempo, ele reforçou que qualidade de vida é algo muito relativo, ou seja, pode mudar ao longo da vida.

Ter contato com brasileiros morando na Europa, seja em Madrid, Paris ou Amsterdã, me fez compreender melhor a resposta certa de cada uma dessas pessoas no momento atual. E me fez questionar as minhas respostas certas ao longo da vida e aquelas que virão (mas que ainda preciso de tempo para descobrir).

A única certeza agora é o hoje e, apesar de tudo o que não saiu como eu imaginava na minha cabeça, não tenho dúvidas de que essa vivência cumpriu o seu propósito.

É claro que ainda volto para o Brasil com muitos questionamentos, mas também com menos sentimentos de que havia algo para ser vivido que eu não tinha certeza se algum dia iria viver na minha vida.

Vivi. E a esperança é de que tudo o que estou construindo hoje me leve a lugares que me preencham tanto quanto Madrid me preencheu nesse último mês.