[#13] Os seus sonhos também podem ser desconfortáveis
Este é o segundo texto sobre aprendizados e reflexões durante o meu período morando em Madrid, em outubro de 2023.
Sonhos costumam ser associados a sentimentos positivos, mas em poucos dias morando em outro país entendi que até mesmo algo que desejávamos profundamente pode ser desconfortável (pelo menos no começo).
A adaptação a uma nova rotina, dividir a casa com uma pessoa diferente, trabalhar em outro fuso horário e ter a possibilidade de desbravar uma cidade que você ama nos intervalos e finais de semana é algo incrível e assustador ao mesmo tempo.
Sabia que seria difícil, mas não imaginava que passaria os primeiros dias com a cabeça a mil por hora, refletindo sobre esse turbilhão de emoções.
Confesso que, logo que chegamos, tudo o que queria era pegar o avião e voltar para a minha zona de conforto, onde tudo é mais óbvio, simples e fácil. Onde não preciso me esforçar para entender as linhas de metrô, decifrar o que comprar no supermercado e constantemente me preocupar com a comunicação em outra língua.
Tudo aqui exige mais de nós. Tudo aqui é uma prova constante de que somos capazes de sobreviver por conta própria.
Lidar com o desconforto do desconhecido que o meu sonho coloca diante de mim tem sido um dos maiores desafios até então. A tendência é que, aos poucos, a nova rotina se torne familiar e acolhedora, mas, até lá, pequenos e grandes incômodos serão os meus companheiros.
Chegamos no aeroporto de Madrid na quarta-feira (04/10), às 13h30, e começamos a aventura lidando com um taxista mal humorada e um host do Airbnb com um inglês pra lá de difícil de entender. Coisas bobas, mas que já nos tiram totalmente da nossa zona de conforto.
Hoje, domingo (08/10), enquanto escrevo este texto na varanda do apartamento, o céu azul e sem nuvens me fazendo companhia, já me sinto mais em casa do que ontem e, provavelmente, menos do que amanhã. O taxista do aeroporto já não parece um grande problema e as questões de comunicação com o host algo muito pequeno perto de tudo o que estamos conquistando dia após dia.
Não sinto medo. Madrid é uma cidade que abraça, acolhe e me faz sentir segura. Na realidade, a insegurança existe apenas dentro de mim, mas quando ela bate mais forte, me lembro de que foi a minha companheira por 29 anos e, se estou aqui hoje, é porque não quero mais que ela seja a protagonista da minha história.
O meu sonho, assim como tantos, pode não ser tão confortável, mas é o que vai me tornar uma mulher mais forte, autoconfiante e capaz de enfrentar as adversidades e desafios que a vida colocar no meu caminho.
Depois que você entra no avião, não tem mais rota de volta. É preciso ficar, lidar com tudo o que surge e mentalizar que vai dar tudo certo. Até porque, mesmo que não dê, você vai dar conta.