[#8] Nostalgia: por que dói sentir saudades do passado?

caneta-solta
Bruna Cosenza
2 de agosto de 2023

Nostalgia. Saudade idealizada, que pode até mesmo ser irreal.

São momentos do passado que retornam à mente e despertam um desejo desesperado pelo regresso.

Comidas, filmes, experiências, pessoas… São tantos os gatilhos da nostalgia.

O que explica esse sentimento que nos invade e, de repente, extingue até o prazer no presente?

Será que não vivemos o passado com intensidade e entrega e, por isso, permanece o desejo de voltar no tempo? Ou será que a nostalgia independe disso?

Do lado de cá, dói saber que algumas coisas jamais serão vividas novamente. E, mesmo que sejam, não será a mesma experiência, afinal, não sou mais a mesma.

Sinto saudades dos dias na escola e na faculdade. Das tardes no cinema com os amigos. Das festinhas pré-adolescentes. Dos romances. Das idas ao shopping com a família no Natal.

Sinto falta até do que, na época, dizia detestar. Os corações partidos. As intrigas. Os dias intensos de estudos. As dúvidas sobre quem eu era.

Hoje, me pego assistindo a uma série adolescente com um triângulo amoroso entre personagens de 18 anos e me dou conta de que essa fase já se foi pra mim. Escorreu. Se apagou. Acabou.

E isso me dói. Por que dói?

Porque sei que o passado não pode ser recuperado. Há vivências que ficam lá, na infância, na adolescência, no começo da vida adulta… Em qualquer outra fase que não seja o hoje.

Nem se quiséssemos poderíamos viver aquilo tudo de novo. Quem somos hoje não permite.

A vida é outra. Somos outros.

Por isso, às vezes a nostalgia dói. Ao invés de confortar, é um lembrete de que não há passagem de volta.

Daqui a alguns anos, será esse presente que terá se tornado nostálgico. Tento agarrá-lo, vivê-lo ao máximo, mas no fundo sei que nunca é o suficiente.

O presente, quando está sendo vivido, nunca é valorizado como deveria. A tendência é olhar para trás com pesar ou saudade e olhar para o futuro com medo ou ansiedade.

E a nostalgia que se forma é tão intensa, que tenho certeza de que deturpamos memórias. É mais fácil acreditar que o passado era mais leve, mais gostoso, mais feliz.

Um escape onde a vida era melhor, não é mesmo?

Não vejo problema em sentir saudades. Mas não gosto quando me sinto presa ao que foi a ponto de me sentir triste com o que se é hoje.

Nostalgia não deveria ser assim. Deveria?