Saúde mental e vida freelancer: aprendizados após 1 ano de terapia
Sempre fui daquelas pessoas que diz: “Gostaria tanto de fazer terapia, mas agora não dá.” E, com isso, ia deixando para depois até que anos se passaram e cheguei aos 27 anos sem nunca ter vivido esta experiência.
Em 2019, me tornei freelancer em tempo integral e esse modelo de trabalho trouxe muitas mudanças para a minha vida. Sou apaixonada pelo meu estilo de vida e não voltaria de jeito nenhum para o CLT (pelo menos não agora), mas não posso negar que ser uma profissional autônoma é bem desafiador e mexe bastante com a saúde mental.
Vários fatores contribuíram para que, em 2021, eu não pudesse mais adiar a terapia. Passei a ter crises de ansiedade mais constantes e não era mais viável ignorar o problema que tinha diante de mim. Tenho certeza de que a vida freela teve a sua influência em tudo isso, pois lidar com a instabilidade não é fácil.
Aproveitando o mês de conscientização sobre cuidados com a saúde mental, o Janeiro Branco, quero aproveitar para compartilhar um pouco o que aprendi após um ano de terapia. Tem sido um processo maravilhoso e necessário para conseguir enfrentar todos os altos e baixos. Espero ajudar de alguma forma por meio do meu relato 🙂
1. Às vezes, o óbvio precisa ser dito
É impressionante como, em muitos momentos, precisamos que o óbvio seja dito. Simples assim. Já perdi as contas de quantas vezes a minha terapeuta falou algo que eu sabia, mas que precisava ser dito a partir de outra construção, por meio de um novo olhar.
Às vezes, nos sentimos perdidos e desesperados diante de uma determinada situação e, na vida freela, é muito comum achar que tudo vai por água abaixo em um momento de baixa de clientes e entradas financeiras reduzidas. Nessas horas, a terapia surge como um ponto de luz no fim do túnel e, por meio do reflexões óbvias, consigo reavaliar vários aspectos e formas de pensar e agir.
2. É importante fazer planos que caibam na sua vida
Recentemente, me dei conta de que estava tentando caber em planos muito maiores do que a minha vida suporta nesse momento. A terapia me ajudou a entender que devo tentar fazer o contrário: criar planos que coubessem na minha vida.
Tenho essa mania de criar expectativas muito altas para mim mesma sem nem me questionar se fazem sentido para mim no atualmente. Quando me dou conta, estou correndo atrás de planos e metas que não se encaixam na vida que tenho hoje.
Em relação à vida freelancer, a busca por sempre ganhar mais e mais, sem se contentar com o que tenho hoje, me coloca numa corrida sem fim. Claro que precisamos ter ambições e sonhos, mas aprendi que é importante não tornar a busca por tudo isso em um plano impossível que não está alinhada a quem eu sou hoje.
Celebrar as minhas conquistas e criar um estilo de vida que caiba na minha realidade hoje é fundamental para ser feliz e ter paz.
3. Garantir que as suas escolhas são realmente suas é fundamental
Entre 2020 e 2021 fiz escolhas na vida freelancer que não eram de fato minhas. Acabei me baseando em outros profissionais da minha área para traçar objetivos e, no meio do caminho, me perdi.
Em meio ao cenário de instabilidade para o qual as minhas escolhas me levaram, me dei conta de que não queria aquilo para mim. E foi doloroso aceitar e recalcular a rota, mas quando tomei coragem, enfim, me libertei. Em qualquer modelo de trabalho existem comparações que resultam em decisões equivocadas e, para não cair nesse tipo de armadilha, é fundamental se aproximar de pessoas que são influências positivas. E, é claro, sempre se questionar sobre a raiz das suas escolhas.
4. Recalcular a rota não significa dar um passo para trás
Ainda em relação ao aprendizado anterior, para recalcular a rota, precisei me convencer de que não tinha falhado e era uma fracassada que estava dando um passo para trás na carreira. Apenas aceitei que tinha feito escolhas que não faziam sentido para mim nesse momento.
No fundo, sentia que estava dando mil passos para frente, pois estava escolhendo de verdade o meu caminho, que com certeza me traria mais tranquilidade e estabilidade, duas coisas que são essenciais para mim. Por isso sempre que precisar repensar a rota como freelancer, não torne isso um problema: você está apenas indo em direção a um caminho que faz mais sentido para você.
A vida é repleta de mudanças e precisamos estar abertos para elas com humildade.
5. Longo prazo nem sempre é sinônimo de estabilidade e segurança
Toda a minha construção de vida gerou dentro de mim a certeza de que segurança e estabilidade estão associados aos excessos de zelo, cuidado, proteção. Também é comum que, de forma inconsciente, eu faça associações entre segurança e decisões a longo prazo. Por exemplo: até pouco tempo eu acreditava que comprar um apartamento é garantia de segurança, porque é um investimento a longo prazo. Mas não necessariamente.
Sem perceber, essa construção estava impactando a maneira que lido com decisões importantes na minha vida pessoal e profissional. No fundo, a vida é tão imprevisível (não podemos controlar tudo que acontece ao nosso redor) que é simplesmente impossível garantir que um apartamento quitado ou um emprego CLT garantirão a tão sonhada segurança.
Como freela, a instabilidade é um dos meus maiores medos, mas para viver esse estilo de vida preciso estar preparada para isso. Sei que é possível trabalhar como autônoma e garantir um futuro seguro e estável também, mas o caminho é totalmente diferente do CLT.
Autoconhecimento é o caminho
A mensagem final que gostaria de deixar é apenas uma: com autoconhecimento você, freela, vai muito mais longe. As dificuldades e desafios existem em qualquer carreira, mas acredito que ser um profissional autônomo exija uma dose extra de coragem, resiliência e dedicação.
Conhecer os seus padrões de comportamento e ser capaz de desconstruir algumas verdades que você carregou a vida toda pode ser fundamental para viver todo os desafios que cruzarão o seu caminho com muito mais saúde mental e consciente das suas escolhas.
Para mais dicas sobre a carreira freelancer, acompanhe o Universo Freela, projeto do qual sou criadora com a Ana Luísa de Oliveira!