Carta para todos que sofrem com a ansiedade
Queridas pessoas ansiosas,
Vocês não estão sozinhas.
Eu sei que quando estamos no auge da nossa ansiedade, parece que estamos sozinhas, no fundo do poço, apenas esperando o pior acontecer. Mas não estamos. Tem um monte de gente nesse mesmo barco.
Vamos combinar que ninguém gostaria de estar no barco das crises de ansiedade, mas já que temos que enfrentar este problema, não é melhor saber que o mesmo fantasma assusta várias outras pessoas também?
Não sei vocês, mas quando pequena, eu vomitava para ir à escola e não entendia por que isso acontecia. Na adolescência, tinha crise de ansiedade após o término de relacionamentos. Não conseguia aproveitar eventos importantes, como a minha própria formatura, porque o meu estômago dava um nó e só pensava em não passar mal.
Vocês também já passaram por algo assim?
A ansiedade vem em várias formas e graus de intensidade. Cada um precisa entender os seus limites, seus gatilhos, suas maneiras de lidar com tudo o que se passa nessa conexão maluca entre corpo e mente.
Não sei vocês, mas como sempre fui assim, não enxergava todas essas questões com a seriedade que elas merecem de fato.
Foi em 2020 que a ansiedade começou a se tornar um problema ainda mais recorrente na minha vida e tive que procurar ajuda: depois de muitos anos negando, enrolando, mascarando, fui atrás de terapia.
Comecei a ter dificuldade para conviver naturalmente em eventos sociais que já faziam parte da minha rotina. No começo, achava que era algo passageiro, mas as crises continuavam voltando e eu não sabia o que fazer.
Vocês devem sentir o mesmo que eu: vulnerabilidade e impotência.
Toda vez que tenho uma crise sinto como se estivesse nua na frente de uma multidão e todos pudessem ver os meus maiores medos e defeitos. Mesmo que ninguém esteja julgando, entro em um looping maluco de vergonha. Tenho vergonha de acharem que é frescura, que é invenção, que é só para chamar a atenção.
Não é. Gostaria que fosse, pois pelo menos assim não seria tão doído. Mas é real. Não sei de onde vem e para onde vai, mas acontece. Meu corpo todo é dominado por uma sensação ruim, como se uma pedra fosse despencar na minha cabeça a qualquer momento. As mãos suam, o coração acelera e o estômago revira todinho. Parece que não vou aguentar. Parece que é o fim da linha.
Quero sair chorando. Gritando. Pedindo socorro. Mas nem sempre consigo. Dá um nó na garganta e espero que as pessoas decifrem sozinhas o que estou sentido, como se eu fosse uma bela bola de cristal.
Não sou. Nem quero ser. Para curar, preciso falar. Preciso olhar para dentro. Preciso olhar para fora e sentir que não estou sozinha. Por muito tempo, a minha única maneira de lidar com a ansiedade foi engolindo-a.
Mas, agora, para não sufocar, aprendi a procurar ajuda. E saber que tem tanta gente lutando contra esse mesmo fantasma me ajuda a me sentir menos esquisita. Menos estranha no ninho. Menos desencaixada.
Por isso estou escrevendo esta carta. Para você que ainda não conseguiu pedir ajuda, saber que não está sozinha. Estamos todas juntas nesse barco, mas com o auxílio certo seremos capazes de impedir que ele afunde. Agora, o mais importante é saber que você não está fingindo, inventando ou querendo chamar a atenção.
É real, mas pode deixar de ser. Para isso, você precisa dar o primeiro passo: aceitar que é um problema e procurar ajuda.
Com amor,
Bruna.
Abaixo, deixo um texto que escrevi após um dia intenso e triste em que vivenciei uma dessas crises:
“Respirei fundo na esperança de sugar todo o oxigênio quando já não havia mais ar para mim.
Senti o coração acelerar até me levar a dimensões desconhecidas.
Convivi com um nó no estômago que se tornou o meu pior inimigo.
Chorei a minha alma para aliviar uma dor que parecia não ter cura.
Senti fantasmas nascerem no meu corpo e me dominarem até eu perder as forças para lutar.
Mas não era possível vê-los, apenas senti-los.
Então, preferi ignorar.
Impotente.
Vulnerável.
Despedaçada.
Ninguém notou o estrago. Nem eu mesma.
Só agora entendi que foi a minha vida toda que me trouxe até aqui.
Afogada em minhas dores invisíveis a olho nu, me perdi no traiçoeiro labirinto da minha mente. E não consegui mais me encontrar.”
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