Por que não somos tão felizes como gostaríamos?

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Bruna Cosenza
14 de abril de 2020
como-ser-feliz

Nessa quarentena aproveitei para realizar um curso online gratuito da Universidade de Yale chamado “The Science of Well-Being”, conduzido por Laurie Santos. De uma maneira geral, as aulas têm como objetivo investigar as causas da infelicidade e como ser feliz. O curso é muito embasado e a professora é ótima!

Gosto bastante do tema felicidade, pois acredito que muita gente ainda insista nos caminhos errados e não saiba o que fazer para ser mais feliz. O curso confirmou algumas ideias que eu já tinha em mente e me apresentou vários outros ensinamentos que vou levar comigo pelo resto da vida.

Em tempos de quarentena, mais do que nunca é preciso pensar nos cuidados que temos em relação à nossa felicidade. O que poderíamos fazer melhor? O que ainda não estamos fazendo? Afinal, quais são os caminhos para ser mais feliz?

Essas são algumas das perguntas que o curso faz e também responde. O objetivo deste artigo é contar um pouco sobre o que aprendi, mas é claro que as aulas têm muito mais conteúdo que merece ser absorvido, portanto, deixo aqui o link do “The Science of Well-Being”, que já tem mais de 2 milhões de inscritos e uma nota de 4,9.

O que acreditamos que é preciso ter para ser feliz

Laurie começa falando sobre todas as coisas que acreditamos que precisamos ter para sermos felizes. Antes de ler a lista com algumas dessas coisas que ela comenta ao longo do curso, pare e faça essa pergunta para você mesmo:

“O que você acredita que precisa ter para ser feliz?”

Em seguida, analise se a sua lista é parecida com esta:

  • Um bom trabalho;
  • Dinheiro;
  • Um relacionamento amoroso;
  • Bens materiais (casa, carro, celular, roupas etc);
  • Um corpo perfeito.

Tenho certeza de que pelo menos um destes itens estava na sua lista também, não é mesmo? O que acontece é que a nossa mente nos fornece intuições que nos fazem acreditar o que traz felicidade, ou seja, o tempo todo temos esse tipo de pensamento:

“Quando eu conseguir aquele emprego ficarei feliz”

“Quando ganhar o dobro do que ganho hoje ficarei feliz”

“Quando perder 10 kg ficarei feliz”

No exemplo do dinheiro, por exemplo, o que acontece é que sempre queremos mais mesmo quando já temos o suficiente. Pesquisas apontam que se hoje ganhamos X (e esse valor já o suficiente para vivermos bem) e amanhã passamos a ganhar 2X, ainda assim continuaremos buscando por 3X.

Além disso, estudos apontam que em nações mais pobres o dinheiro tem mais impacto na felicidade das pessoas porque nem sempre elas têm o básico para viver (moradia, alimentação, saneamento básico etc). No entanto, em nações desenvolvidas o dinheiro não tem grande impacto na felicidade.

A origem da felicidade

Outro dado muito relevante apresentado por Laurie é sobre a origem da nossa felicidade, ou seja, o quanto a felicidade está sob o nosso controle?

Pesquisas apontaram que 50% da felicidade é resultado de uma combinação genética; 10% de fatos que acontecem ao longo da nossa vida e 40% é proveniente de nossos hábitos, pensamentos e ações.

O que isso quer dizer? Significa que temos controle sobre 40% da nossa felicidade. O que é resultado de genética e acontecimentos da vida fogem do nosso controle. Mas nossas ações e pensamentos dependem apenas de nós, não é mesmo?

Esse foi um dos dados mais impactantes para mim, pois eu não sabia dessa divisão e entendi que a felicidade está muito mais nas nossas mãos do que eu podia imaginar. Muitas vezes nos pegamos reclamando sobre uma tragédia ou algo que fizeram que nos impactou negativamente, mas na realidade temos controle sobre como reagiremos sobre isso.

O que são pontos de referência e por que afetam a felicidade?

Os pontos de referência também são responsáveis por diminuir ou elevar nossos níveis de felicidade. Lembra-se do exemplo do salário? Sempre que ganhamos mais, na verdade não ficamos satisfeitos e queremos ganhar ainda mais. Não paramos nunca. Nosso ponto de referência vai sempre se elevando e nunca se satisfaz.

Além disso, existe outro ponto de referência, a comparação social, que é aquela comparação que fazemos com outras pessoas. Sabe a mania que temos de sempre achar que a grama do vizinho é mais verde? É isso. Essa comparação constante pode ser muito prejudicial à felicidade.

Se for para se comparar, o correto seria fazer comparações dentro da sua realidade, ou seja, comparar a sua carreira com a de uma pessoa que tem o mesmo nível de experiência e o mesmo cargo que você. O que fazemos, no entanto, é nos compararmos a pessoas fora da curva e com uma trajetória completamente diferente.

Pare e pense em quantas vezes você não se comparou com uma cantora famosa e se sentiu inferiorizada por não ser magra, rica e não ter um namorado que parece ter saído de uma capa de revista.

Hoje, com as redes sociais, passamos o tempo todo fazendo comparações sociais que não são saudáveis e afetam nossa autoestima e felicidade. Sabia que até o fato de você ver um homem muito bonito no Instagram pode afetar como você analisa a beleza do seu parceiro? É realmente assustador pensar em como essas comparações são nocivas.

A felicidade provocada por algo novo se torna rotineira

Outro ponto interessante sobre a felicidade é como ela tem um pico no início e depois se torna rotineira. Isso quer dizer que quando algo acontece pela primeira vez, ou seja, quando você descobre que foi aceito para estudar em Yale, você fica muito feliz.

O mesmo acontece com o primeiro “eu te amo” em um relacionamento ou a proposta que você recebeu daquele emprego dos sonhos. No começo, você é dominado por um pico de felicidade, porém, logo ela se torna usual e perde o brilho.

Depois de um ano você não se sente mais tão feliz assim por estudar em Yale, o emprego dos sonhos virou apenas um emprego e o “eu te amo” vira algo comum no seu dia a dia.

Bens materiais X experiências: o que traz mais felicidade?

Muita gente já tem a resposta para essa pergunta, mas sempre vale reforçar que as experiências são uma maior fonte de felicidade do que os bens materiais.

Quando compramos um carro, celular ou uma roupa, nos acostumamos com esses objetos e, aos poucos, a felicidade que eles proporcionavam acaba. Por outro lado, as experiências geram mais felicidade porque as vivemos e depois tudo se torna memória.

Além disso, pensar nas experiências antes delas aconteceram também provoca mais felicidade do que comprar algo. Assim como compartilhar com alguém sobre experiências que você viveu é muito mais interessante do que compartilhar sobre as coisas que você comprou. Isso também tem um impacto direto na sua felicidade.

Vale ressaltar, no entanto, que por mais que as experiências proporcionem mais felicidade, podem ser nocivas quando você se compara com os outros. Portanto, se você acabou de viajar, mas abre o Instagram e fica comparando sua viagem com a de outras pessoas, pode se sentir inferior por conta das comparações sociais.

Como se livrar das comparações sociais?

Existem algumas maneiras de diminuir o impacto das comparações sociais no dia a dia e ser mais feliz. Confira, abaixo, algumas delas:

1. Valorize a novidade que se tornou usual

Revisite momentos ruins que você vivia antes de algo que proporcionou felicidade para valorizar mais o que tem hoje.

Exemplo: você conquistou o trabalho dos sonhos, mas 1 ano depois deixou de valorizá-lo tanto. Relembre o seu emprego anterior ao trabalho dos sonhos e como ele era ruim. Isso fará com que você volte a valorizar ainda mais o que tem em mãos hoje.

2. Seja grato pelo o que você tem

Para diminuir a comparação social, seja grato pelo o que você tem hoje. A gratidão irá te ajudar a cultivar menos inveja. Para ser mais grato é preciso estar atento aos seus pontos de referência e prezar por aqueles que não te fazem se sentir mal.

Exemplo: não se deixe levar por campanhas como a da Victoria’s Secrest, com modelos de corpos perfeitos e irreais. Seu ponto de referência deve ser uma campanha como a Real Beleza da Dove.

3. Diminua o acesso às redes sociais

O conselho mais radical aqui seria para que você deletasse os aplicativos de redes sociais do seu celular, mas como este é um passo mais difícil, a dica será diminuir a quantidade de acessos.

Comecei a fazer isso desde o início de 2020 principalmente com o Instagram. Infelizmente, preciso utilizar as redes sociais para divulgar o meu trabalho, mas o tempo que passo conectada caiu muito nos últimos meses. Praticamente não abro mais os InstaStories e só dou uma rápida olhada no feed 1 ou 2 vezes por dia.

Tomei essa decisão antes mesmo de fazer o curso porque andava me sentindo muito mal. O Instagram é uma rede nociva, onde você só vê pessoas felizes, com corpos perfeitos, viagens incríveis. Tudo isso fazia com que eu me sentisse inferior e pior do que todos que estavam na rede. Recomendo muito que diminuam os acessos, pois faz diferença nos níveis de felicidade e autoestima.

Como ser feliz?

Afinal, se há tanta coisa tornando as pessoas infelizes, o que é capaz de fazê-las mais felizes? O curso aprofunda muito mais em todas as questões que estou abordando aqui, por isso não deixem de conferir as aulas. Mas para dar um gostinho, vou citar algumas das estratégias para ser mais feliz que Laurie ensina.

1. Atos de bondade

Talvez você não imaginasse que atos de bondade entrariam nessa lista, mas estudos já comprovam que ser bom com outras pessoas aumenta os seus níveis de felicidade.

Pesquisas que são mostradas ao longo do curso apontam que doar uma determinada quantidade de dinheiro para alguém causa mais felicidade do que usar o dinheiro para comprar algo para você.

Incrível, não é mesmo? Pequenos atos de bondade têm um efeito enorme no seu dia a dia, no seu humor e, é claro, na sua felicidade como um todo.

2. Conexões sociais

As conexões que temos com as pessoas também impactam em quanto somos felizes. Estudos revelam dados importantes quando comparam pessoas felizes e infelizes. As pessoas felizes têm mais amigos próximos, laços mais fortes com a família e laços românticos mais fortes (seja namoro, casamento etc).

Além disso, as pesquisas também afirmam que pessoas infelizes passam mais tempo sozinhas, longe de amigos e familiares. Por outro lado, as pessoas felizes ocupam mais o tempo ao lado de outras pessoas.

3. Gratidão

Para alguns pode parecer besteira, mas a verdade é que a gratidão tem um impacto positivo na felicidade das pessoas. Uma das maneiras de praticar a gratidão é fazendo listas de coisas pelas quais você é grato.

Atos como esse fazem com que você se sinta melhor em relação à sua vida. Além disso, a gratidão também tem impacto em sintomas físicos negativos e até nos hábitos.

4. Savoring

Não encontrei uma boa tradução para o termo “savoring”, então vou apenas explicar sobre o que se trata. Savoring é o ato de se afastar da realidade e realmente aproveitar algo que você está fazendo no momento, ou seja, estar presente de verdade.

Um exemplo: você está comendo um chocolate delicioso e aproveitando de verdade o ato de comer o doce. Você não come pensando nos problemas que tem que resolver ou na briga que teve com seu amigo. É o ato de estar totalmente presente.

Dessa forma, você aprecia mais profundamente aquele momento, aproveita a experiência e presta atenção em seus detalhes.

O que ajuda a prática do “savoring”:

  • Contar pras pessoas sobre sua experiência;
  • Compartilhar a experiência com outras pessoas;
  • Pensar em como você é sortudo;
  • Expressar como você se sente feliz;
  • Dizer para você mesmo como está orgulhoso de si mesmo.

O que prejudica a prática do “savoring”:

  • Pensar no futuro e nos problemas;
  • Falar que pensava que seria melhor;
  • Lembrar-se de que vai acabar logo;
  • Dizer que nunca mais vai ser tão bom como foi;
  • Colocar-se na posição de não merecedor do momento presente;
  • Tirar fotos e não aproveitar o momento presente.

5. Priorizar tempo e não dinheiro

Algumas pessoas preferem trabalhar mais e ter menos tempo livre para ganhar mais dinheiro. Outras preferem ganhar menos e ter mais tempo livre.

Já parou para pensar qual desses dois perfis de pessoas é mais feliz? Fiquei contente ao saber que é aquele com o qual me identifico: ganhar menos, mas ter mais tempo livre.

Pesquisas divulgadas no curso mostram que pessoas com mais tempo livre são mais felizes. Portanto, focar apenas em trabalhar e ganhar mais não necessariamente vai elevar seus níveis de felicidade. Ter tempo para atividades livres, hobbies, conexões sociais é o que realmente traz felicidade.

6. Controle da mente

A dinâmica de vida atual faz com que as nossas mentes estejam em vários lugares ao mesmo tempo, o que é nocivo para a felicidade. Quando é preciso se concentrar em uma única tarefa, não é incomum a mente divagar por problemas do passado, anseios em relação ao futuro ou qualquer outra coisa.

Pesquisas revelaram que quase metade do tempo a nossa mente não está no aqui e agora, ou seja, ela está divagando por aí e isso resulta em pessoas menos felizes.

A meditação é uma prática capaz de ajudar a controlar a mente e colocar a atenção no presente, com foco na respiração ou em um específico pensamento. Pesquisas com meditadores experientes comprovaram que meditar ajuda no controle da mente não somente durante a prática, mas em outros momentos do dia.

7. Exercícios físicos

Praticar exercícios físicos tem efeitos psicológicos impressionantes. Um estudo realizado com indivíduos que sofriam de depressão dividiu as pessoas em três grupos para o tratamento da doença ao longo de 16 semanas:

  • Um grupo fez exercícios 3x por semana por 30 minutos;
  • Um grupo foi apenas medicado com antidepressivos;
  • Um grupo fez os exercícios e foi medicado.

O impressionante resultado é que o primeiro grupo, ou seja, aquele que apenas se dedicou as exercícios, foi o que teve mais pessoas recuperadas da depressão. Não há dúvidas, portanto, de que os exercícios físicos são essenciais para ser mais feliz e cuidar da saúde mental.

8. Sono de qualidade

O sono é importante para ter disposição e se sentir bem, mas sabia que também tem impactos diretos na sua felicidade?

A privação de sono afeta o humor e aumenta as reclamações sobre problemas físicos e emocionais, ou seja, de certa forma dormir pouco muda a sua perspectiva sobre a sua vida como um todo.

Além disso, pouco sono também tem outros efeitos negativos na sua saúde e bem-estar. Ao dormir menos de 7 horas, você sente mais fome, o seu sistema imunológico fica mais fraco, sua memória é afetada etc.

A felicidade está nas suas mãos

Respondendo a pergunta que está  no título deste artigo, aprendi que não somos tão felizes como gostaríamos (pelo menos a maioria de nós) porque estamos focando nas coisas erradas.

A grande mensagem que ficou para mim depois que fiz este curso foi que para ser feliz é preciso se dedicar. Seria muito mais fácil se um carro novo ou uma roupa de luxo nos trouxesse felicidade eterna, não é mesmo?

Na verdade, ser feliz demanda muito mais de nós. Primeiro, é preciso entender o que não nos torna felizes. Em seguida, entender o que proporciona felicidade. Por último, é preciso agir.

A felicidade não vem sem esforços. Veja só quantas coisas aprendemos que é preciso fazer para elevar os níveis de felicidade: você deve praticar atos de bondade; exercer a gratidão; viver momentos com foco no presente; se conectar com as pessoas; diminuir as suas comparações sociais; dormir mais; se exercitar com regularidade; meditar; ter tempo livre.

Quantos de nós nos dedicamos a tudo isso? Quantos de nós nos esforçamos para criar esses novos hábitos e comportamentos?

Como falei lá no início do texto, 40% da nossa felicidade está sob o nosso controle. São nossas ações, pensamentos, hábitos. Nós podemos e devemos ser mais felizes e agora, mais do que nunca, eu sei disso. Não nascemos felizes, nos tornamos felizes.

O próximo passo? Colocar tudo o que aprendi em prática.


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