5 escritoras brasileiras que você precisa conhecer

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Bruna Cosenza
7 de abril de 2020
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É triste falar sobre isso, mas precisamos ressaltar como o mundo literário ainda é predominantemente masculino. A maioria dos livros brasileiros da minha estante, por exemplo, são de homens escritores. Por muito tempo ignorei este fato, mas cada vez mais tenho procurado por obras de escritoras brasileiras.

Muitas pessoas não têm conhecimento sobre os grandes nomes de mulheres da literatura brasileira. O problema está enraizado na sociedade.

Um ótimo exemplo são os livros obrigatórios para vestibulares que, em sua maioria, são obras de homens: Machado de Assis, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa. Todos incríveis e com o seu valor, mas isso não quer dizer que não existam escritoras fenomenais que mereçam entrar em listas como essa também. Até porque os livros da escola são um dos primeiros contatos dos jovens com a literatura: é a hora de abraçar a diversidade.

Além disso, no mundo os dados confirmam a enorme desigualdade de gênero na literatura: entre o total de 116 ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura, apenas 15 foram mulheres. Não é fácil engolir fatos como esse.

O que ficou no passado não pode ser mudado, mas o presente e o futuro merecem a nossa atenção. Eu, como uma jovem escritora contemporânea, preciso fazer parte dessa luta, afinal, se quiser conquistar o meu espaço no mundo literário, antes de tudo devo dar o exemplo.

Resolvi começar essa luta por meio da produção de conteúdos sobre grandes escritoras. Vocês me veem falar muito de Hemingway, por exemplo, e aposto que nem todos sabem que sou muito fã de Clarice Lispector também.

A ideia é expandir a mente e se abrir para conhecer o que há de melhor da literatura brasileira criada por mulheres!

5 escritoras brasileiras para incluir na sua estante

Confira, abaixo, a lista de escritoras brasileiras que separei e que já estou animada para adicionar às minhas próximas leituras também 🙂

Clarice Lispector

A Clarice é uma das escritoras brasileiras com as quais mais tive contato. A primeira obra que li “Felicidade Clandestina”, que me encantou demais e inspirou até um texto que escrevi há muitos anos. Em seguida, me aventurei por “A hora da estrela” que, até hoje, é um dos meus livros preferidos.

Gosto muito da maneira que a autora aborda questões existenciais, mas confesso que às vezes me perco. Alguns de seus livros são bem densos, como por exemplo, “A paixão segundo G.H.” que eu infelizmente não consegui terminar.

Para quem nunca leu ou nem ouviu falar até hoje sobre Clarice, vale pontuar que ela nasceu na Ucrânia e foi naturalizada brasileira. Escreveu muitos contos, romances e ensaios, sendo reconhecida como uma as maiores escritoras do século XX.

Uma curiosidade muito interessante é que seu nome na verdade era Chaya, mas acabou mudando para Clarice quando veio para o Brasil. Formada em Direito, publicou seu primeiro conto com apenas 19 anos. Já em 1943, lançou o romance “Perto do coração selvagem” e conquistou o Prêmio Graça Aranha.

“A hora da estrela”, minha obra preferida da autora, ganhou adaptação audiovisual e foi premiada no festival de cinema de Brasília em 1985. Além disso, conquistou o Urso de Prata em Berlim.

Clarice tem muitas obras inesquecíveis e marcantes, portanto, se você ainda não leu nada da autora, vale ir correndo na livraria mais próxima (ou no seu Kindle) para começar agora mesmo uma leitura!

Rachel de Queiroz

A primeira mulher a conquistar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras não poderia ficar de fora da lista. Além de escritora, Rachel de Queiroz foi professora, jornalista e dramaturga.

Conhecida por ter sido uma grande pioneira, Rachel de Queiroz ajudou outras mulheres a seguirem seus passos. Foi uma das primeiras mulheres cronistas, além de ter sido a única aceita no movimento modernista brasileiro.

Em suas obras, as caraterísticas mudam um pouco de acordo com o momento de vida da autora. Alguns livros abordam bastante o regionalismo e desigualdades sociais, enquanto outros textos têm maior teor político. Por fim, alguns de seus livros também são mais intimistas e contam com uma perspectiva psicológica.

Nasceu em 1910, em Fortaleza. Começou escrevendo para jornais até publicar o romance “O Quinze”, em 1930, que abordou com muito realismo a seca, a miséria e as desigualdades sociais. No ano seguinte, Rachel já recebeu o “Prêmio Fundação Graça Aranha” na categoria romance (e pensar que ela só tinha 21 anos nessa época).

Um ponto importante da sua trajetória é o fato de que em 1935, durante a opressão do governo Getúlio Vargas, Rachel foi presa e durante esse período escreveu seu terceiro romance, “Caminho de pedras”, que foi apreendido pelo governo porque nele ela se reposiciona em relação ao partido comunista.

Continuou escrevendo para diversos jornais, até colaborar com o ” O Estado de São Paulo” em 1988. Muito ativa, Rachel de Queiroz não apenas escrevia mas também esteve presente na 21ª Sessão da Assembleia Geral da ONU, em 1966.

Ganhou inúmeros prêmios, inclusive o “Prêmio Machado de Assis”. Como mulher, entrou para a história ao integrar a Academia Brasileira de Letras em 1977, ocupando a cadeira número 5.

Ah, vale a pena ver a lista atual de membros da Academia e conferir quantas mulheres fazem parte.

Hilda Hilst

Hilda Hilst nasceu em Jaú, interior de São Paulo, em 1930. Devido a diversas questões familiares, ela acabou se mudando e em 1937 estava estudando na cidade de São Paulo, no colégio Santa Marcelina.

Em 1948, continuou sua brilhante trajetória ao ingressar no curso de Direito da USP. Em 1950, publicou seu primeiro livro de poesias, “Presságio”. Foi em 1970 que mergulhou no mundo de ficção com a publicação da obra “Fluxo Floema”. Já em 1982, escreveu “A obscena Senhora D”, que também foi adaptado para o teatro.

Na década de 90, a escritora passou a se dedicar à pornografia, escrevendo livros eróticos, como por exemplo, “Caderno rosa de Lory Lamb”.

Muitos descrevem Hilda como uma feminista de seu tempo, pois além de da sua personalidade forte e autêntica, sem medo de ser quem queria ser, sua obra aborda a moral, costumes e até a sexualidade. Estes eram temas que a sociedade tinha dificuldade de aceitar e encarar na época.

Foi homenageada na Flip de 2018. Recebeu diversos prêmios, inclusive o Jabuti. Hilda faleceu em 2004 e deixou como memória mais de 40 livros e suas poesias que fizeram história na literatura brasileira. Para completar, teve textos traduzidos para o francês, inglês, alemão e italiano.

Conceição Evaristo

Nasceu em uma favela da zona sul de Belo Horizonte e passou por muitas dificuldades antes de alcançar a sua posição atual. Uma das grandes escritoras brasileiras, Conceicão Evaristo também é professora, mestra em Literatura Brasileira e doutora em Literatura Comparada.

Um baita currículo só para começar, não é mesmo? Conceição iniciou sua trajetória na literatura nos anos 90, ao publicar textos na série “Cadernos negros”, uma publicação literária periódica que tinha como objetivo veicular a cultura e produção de escrita afro-brasileira.

Já nos anos 2000, passou a se dedicar à publicação de romances, contos e poesias, entre eles “Poenciá Vicêncio” e “Becos da Memória”. A obra “Olhos d’água” lhe rendeu o Prêmio Jabuti em terceiro lugar na categoria contos. Além disso, também recebeu o prêmio Faz a Diferença, na categoria prosa, em 2017.

Suas obras são marcantes e de extrema importância, pois têm como foco as vivências das mulheres pretas, com inúmeras reflexões sobre as desigualdades raciais no Brasil. Os textos de Conceição retratam o cotidiano, levantando discussões sobre opressões raciais e de gênero, ou seja, temas que merecem a nossa atenção.

Lygia Fagundes Telles

Para terminar essa lista de escritoras brasileiras, vamos falar de Lygia Fagundes Telles. Ela ocupa, atualmente, uma das cadeiras da Academia Brasileira de Letras (é uma das poucas mulheres por lá, hein).

Nasceu em São Paulo, em 1923. Com grande interesse pelas letras desde pequena, em 1938 publicou seu primeiro livro de contos chamado “Porão e Sobrado”, que foi financiado pelo seu pai.

Aos 17 anos, entrou na Escola Superior de Educação Física, mas no ano seguinte decidiu também cursar Direito na USP. Aos poucos, foi mergulhando ainda mais no universo literário, frequentando locais em que escritores se reuniam e acabou conhecendo Mario e Oswald de Andrade.

Seu romance, “As meninas”, publicado em 1973, lhe rendeu diversos prêmios, entre eles o Jabuti e o Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras. Assim, em 1987, assumiu a cadeira número 16 na Academia, sendo uma das poucas mulheres a conquistarem tal posição.

Muitas de suas obras foram publicadas em outras línguas, o que fez com que ganhasse fama internacional. Além de “As meninas”, outros livros famosos de Lygia são: “Ciranda de pedra”, “Verão no aquário” e “Invenção e memória”.

A literatura da autora aborda questões existenciais de maneira intimista. Sua literatura é marcada pelo fim da Segunda Guerra Mundial e diversas mudanças políticas. Por muitos especialistas a autora é descrita como detentora de uma obra “existencialista” por explorar experiências interiores dos personagens que buscam um sentido para suas questões existenciais.

Além disso, também traz questões sobre a condição das mulheres, como a queda do ideal romântico e os padrões que eram obrigadas a seguir, como se apaixonar, casar e ter filhos.


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