O que eu aprendi no dia em que me senti a pior escritora do mundo
Exagerado, né? O título desse artigo é exagerado de propósito.
Em agosto desse ano dei início a algo que estava postergando há muito tempo. Comecei uma Oficina de Escrita Criativa no b_arco. Por incrível que pareça, nunca tinha feito nenhum curso desse tipo.
Sempre faltava dinheiro ou tempo – as típicas desculpas de quem fica rodando em círculos em torno de algo que sabe que precisa fazer.
Para quem quiser anotar a dica, estou fazendo a Toca Literária com o Marcelino Freire, pernambucano ganhador do Prêmio Jabuti e criador da Balada Literária.
Eu não sabia o que esperar da oficina, mas confesso que estava um pouco ansiosa porque teria que me expor, ouvir críticas e elogios. Eu fui com a cara e a coragem.
As dinâmicas dos encontros são sempre parecidas: sentamos em círculo, lemos, comentamos, lemos, comentamos.
Marcelino é bem peculiar. Com tom debochado e descontraído, ele consegue fazer críticas construtivas de uma maneira que você não se sente no fundo do poço. E nem é o intuito da oficina diminuir as pessoas.
O grande objetivo é criar conexões com pessoas que, assim como você, amam a literatura e querem celebrar a arte de escrever.
A minha escrita é simples. Isso é ruim?
Sempre fui muito insegura com a minha escrita. Demorei para criar coragem e divulgar as minhas palavras para o mundo.
Isso porque acreditava que eu não era uma escritora de fato. Passei a minha adolescência inteira lendo Machado de Assis, Lima Barreto e José Saramago – livros obrigatórios da escola. Por mais que admire esses escritores, aquele não era o meu tipo de escrita.
Não sei e não gosto de escrever pesado, com diversas metáforas e construções elaboradas. Admiro, mas não é o meu perfil. Não é quem sou.
Só quando li um livro de uma blogueira da qual era fã, um romance sobre relacionamentos e autoconhecimento, que entendi que era possível escrever bem e de maneira simples.
Nesse momento, abracei a simplicidade de coração aberto. Foi assim que o meu blog nasceu, que o meu livro nasceu. É isso que norteia a minha escrita desde então.
O dia em que me senti a pior escritora do mundo
Em uma das primeiras aulas da oficina fomos desafiados a entregar um texto autoral para o Marcelino. Com muito orgulho, levei o capítulo final do meu primeiro romance.
No encontro seguinte ele comentou todos os textos que foram entregues. Quando chegou a minha vez, meu coração estava quase saindo pela boca. Estava ansiosa, nervosa.
É aquela pressão de que tem alguém muito renomado avaliando o seu trabalho.
Os comentários de Marcelino, sempre muito bem-humorados, abriram os meus olhos para muitas coisas.
Um dos primeiros aprendizados da oficina foi sobre os clichês. É absurdo o quanto nos deixamos levar por eles. Estão completamente enraizados em nós.
Marcelino me devolveu o texto cheio de marcações e fiquei boba de ver como meu texto era repleto desses clichês. A minha escrita, com certeza, poderia ser muito mais limpa e distante do lugar comum.
A simplicidade da minha escrita foi elogiada, mas também foi pontuado que meu texto poderia ser melhor trabalhado em alguns momentos, de tal forma a encontrar um equilíbrio entre a simplicidade e a complexidade.
O maior questionamento de todos: estaria me enganando esse tempo todo?
As aulas da oficina me abalaram um pouco no início. Fiquei me questionando se tudo o que eu escrevia era péssimo, bobo, sem valor.
As críticas foram construtivas, mas, por algum motivo, sentia que diante de todos que participavam do curso eu era a que tinha a escrita mais simples. Algumas pessoas liam textos complexos, que por conta do cansaço muitas vezes eu nem entendia direito.
Marcelino elogiava as construções, as metáforas, as complexidades. E eu ficava me questionando se a minha literatura fazia sentido.
Até que, semana passada, jantando com uma amiga que leu meu livro e acompanha a minha escrita, desabafei. Contei sobre minhas dúvidas e angústias. Confessei que não sabia mais se eu estava no caminho certo, se a minha literatura era digna de ser lida.
Ao ouvir meus questionamentos, ela me lembrou de algo que eu mesma estava me esquecendo. Ela comentou como o meu livro era quase que uma conversa com uma amiga. Como ela se sentia acolhida com a história, que era uma leitura para o dia a dia, se distrair, se identificar e pensar também.
Não. Eu não sou e nem pretendo ser Machado de Assis. Eu sou Bruna Cosenza. Meus textos são como amigos das pessoas. Eles dão dicas, conselhos, refletem sobre o cotidiano, fazem você rir, chorar e se enxergar na história.
Para ser um escritor, respeite a sua essência
Um dos meus medos sempre foi escrever de forma rasa. Nunca quis isso, principalmente porque, para mim, a escrita só tem valor se proporciona algum tipo de reflexão.
Textos e livros que não me fazem pensar em nada não são valiosos. Passam despercebidos e são rapidamente esquecidos.
Eu sempre quis, por meio das palavras, deixar alguma marca na vida das pessoas. Desde o começo, era tudo o que queria.
Eu não era a pior escritora do mundo. A minha amiga me lembrou de que eu não preciso ganhar o prêmio Jabuti ou no Nobel da Literatura para escrever algo significativo para as pessoas.
John Green e Nicholas Sparks, por exemplo, não ganharam o prêmio Nobel e provavelmente não ganharão. No entanto, possuem fãs e encantam as pessoas com seus livros.
Leia também: Como publicar um livro: dicas essenciais para fazer boas escolhas
Isso não significa que não possa sempre aprimorar a minha escrita e ouvir conselhos de grandes mestres como Marcelino Freire. Que fique claro: ele jamais criticou os meus textos. Na realidade, ele enxergou força que tinham e me incentivou a deixá-los ainda melhores.
Eu que, por ser insegura, comecei a me questionar se a minha escrita tinha valor.
Tive que reaprender a admirar a minha própria escrita e aceitar que sempre terei como evoluir. Sempre poderei aprender mais e aprimorar o que não está tão bom. No entanto, jamais devo perder a minha essência.
Até por que se deixar de escrever como e sobre o que gosto, essa atividade irá perder o significado em minha vida.
Nenhum escritor deve, de maneira alguma, perder aquilo que tem de mais singular.
Após toda essa pequena crise me sentindo a pior escritora do mundo, ressurgi e voltei a me aceitar. Voltei a acreditar em mim. E isso é o mais importante para um escritor. Se você, em primeiro lugar, não acreditar em si mesmo, ninguém irá.
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