A culpa que você sente por estar infeliz no trabalho não é só sua

carreira
Bruna Cosenza
6 de setembro de 2019

De um lado temos mais de 12 milhões de desempregados. Do outro, 90% dos brasileiros estão infelizes com seus trabalhos.

Um cenário complexo que faz com que algumas pessoas fiquem angustiadas por não terem uma renda em meio à crise e a outra parte sofra por se sentir extremamente insatisfeita com o trabalho atual.

Diante de uma situação como essa, em que todos os jornais bombardeiam diariamente sobre a alta taxa de desemprego e a recuperação econômica do país, é normal que quem tenha um emprego (por mais infeliz que esteja) se agarre a ele.

Estar feliz e satisfeito em uma hora dessas acaba deixando de ser prioridade para muita gente, porque o mais importante é conseguir colocar a comida na mesa todo mês.

Infelicidade no trabalho: você não está sozinho

Não são apenas as estatísticas que afirmam. Se você parar para conversar com seus amigos em uma mesa de bar, se dará conta de que muita gente é infeliz no trabalho.

O que acontece é que, muitas vezes, as pessoas escondem, afinal, é mais bonito para os olhos alheios amar o seu trabalho. Ou então, alguns sentem-se em um beco sem saída diante do cenário econômico do país. Ficam estagnados e em um círculo completamente vicioso de raiva e infelicidade.

É comum acharem que não existem outras opções. Como se ficar infeliz fosse o único caminho viável.

Já escrevi bastante sobre isso aqui, principalmente sobre a frustração profissional dos nossos jovens. É importante falarmos sobre o que não nos faz bem no ambiente no trabalho e entender como reverter essa situação.

Mais importante ainda é deixar claro como você não está sozinho. Sim, existem milhares de pessoas como você.

Pessoas que não são felizes profissionalmente, mas não sabem o que fazer. Pessoas que não sabem nem do que gostam, mas têm medo de descobrir. Pessoas que acreditam que não exista espaço para elas em um país em crise constante, com taxas de desemprego altíssimas.

A culpa gera um looping infinito

Além da consciência de que você não está sozinho, é importante também parar de sentir culpa.

Bom, mas por que sentimos culpa?

Porque diante de um cenário de 12 milhões de desempregados, a pressão para se sentir “grato” pelo seu trabalho é bem grande.

Afinal, como eu vou reclamar do meu emprego se tem tanta gente desempregada por aí? Eu deveria agradecer todos os dias por ter uma renda, não é mesmo?

Claro. Você deve agradecer sim, mas um cenário econômico externo (ou seja, que foge completamente do seu controle) não pode determinar como você deve se sentir em relação ao seu trabalho.

Não é porque temos 12 milhões de desempregados que você precisa estar satisfeito com a sua vida profissional.

Infelizmente, muita gente não tem tanta clareza disso e começa a cultivar uma culpa por estar infeliz, que se torna um looping infinito.

Funciona mais ou menos assim:

Eu tenho um trabalho que me deixa infeliz -> O Brasil tem 12 milhões de desempregados -> Eu agradeço por ao menos ter um trabalho -> Eu me sinto infeliz todos os dias -> Mas o Brasil tem 12 milhões de desempregados -> Melhor eu agradecer por ter um emprego (…)

E não acaba nunca.

É como se, o tempo todo, você buscasse “desculpas” para amenizar a sua infelicidade. De certa forma, você está maquiando a sua insatisfação. E ainda por cima usando para isso um fator econômico sobre o qual você não tem nenhum controle.

Não se sinta mal, muita gente cria esses processos internos sem nem se dar conta. E as pessoas ao seu redor contribuem também.

Basta se lembrar das vezes em que conversou com alguém sobre a possibilidade de se demitir ou se arriscar um pouco mais. Provavelmente as pessoas falaram: “Ah, mas com essa crise é melhor esperar. A crise está tão feia, tantos desempregados.”

Sim. As pessoas falam isso de forma natural. Às vezes elas nem querem, mas falam porque está no inconsciente delas.

CRISE = AGUENTAR A INFELICIDADE PORQUE TEM MUITA GENTE DESEMPREGADA

E não me entendam mal, não estou dizendo que todos os infelizes precisam largar seus empregos e saírem sem rumo por aí. Longe disso.

O que eles precisam fazer é acordar!

Se você está infeliz, pare de se culpar e faça algo para mudar

Ficar se culpando não vai te levar a lugar nenhum, apenas gerará mais angústias.

O primeiro passo é entender que as coisas não vão mudar se você não tomar a iniciativa. Cada pessoa tem suas dúvidas e angústias, mas de uma forma geral o primeiro passo é bem semelhante para todos.

Antes de mais nada você precisa parar e refletir:

O que você não gosta no seu trabalho? O problema é a empresa? O problema é o formato de trabalho? Ou você não gosta da atividade que exerce?

Sem responder essas perguntas você não vai a lugar nenhum. Faça esse exercício e não pare até encontrar tais respostas. Busque ajuda se precisar: converse com seus pais, amigos, outros profissionais, faça coaching, cursos de autoconhecimento. Vá atrás!

Não existe fórmula pronta, cada um irá desvendar o seu processo.

E digo mais: pode acontecer da resposta estar na nossa cara o tempo todo, mas por algum motivo não enxergamos.

Às vezes, apenas o tempo trará certas respostas. Isso porque quando não temos certeza de algo, precisamos experimentar. É apenas testando que entendemos do que gostamos ou não.

Se você ainda não consegue responder se prefere trabalhar como CLT ou freelancer, por exemplo, então quer dizer que precisa testar mais um pouco. A resposta não virá de ninguém, apenas de você mesmo.


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As conversas e trocas de experiência são cruciais para todo o processo, mas as outras pessoas não serão capazes de trazer as respostas prontas em uma linda bandeja de prata.

Você precisa ir atrás, questionar, testar, errar, tentar mais uma vez!

Talvez a culpa continue te perseguindo por algum tempo, mas a partir do momento em que você se der conta de que não está sozinho e de que não pode utilizar um fator externo para guiar as suas decisões, então você sairá desse looping.

Deixará a culpa por se sentir infeliz para trás e terá a certeza de que a mudança está dentro de você. Depende da sua vontade.

Por fim, é sempre bom lembrar: usar essa infelicidade como motor de transformação da sua vida pode fazer uma enorme diferença na sua busca por um caminho profissional que faça muito mais sentido para a sua jornada.


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