Reflexões sobre o limbo
Acredito que existam dois tipos de pessoas: as que se importam e as que não se importam. Sempre achei importante se importar mais com os outros do que com si mesmo, até porque o mundo precisa de mais indivíduos altruístas.
No entanto, de uns tempos pra cá comecei a não me importar mais com os outros. “O que está acontecendo comigo?”, pensei inúmeras vezes. De repente, eu só me importava com o que eu sentia, com o que eu queria fazer. De repente, as pessoas com quem antes eu me preocupava tinham se tornado completamente indiferentes. De repente, ninguém me fazia mais falta e eu era a minha única prioridade.
Até que, certo dia, li o trecho de um determinado livro e percebi que, talvez, eu não fosse a única a me sentir assim. Talvez, eu tenha chegado a certo ponto em que as pessoas tenham se tornado desinteressantes para mim. Enfim, atingi o que o autor do livro chama de limbo. E o que significa estar no limbo? É exatamente não sentir nada.
Não é por opção. Apenas caímos lá de repente, mas também não fazemos muita força para sair. Quando nos damos conta, já perdemos a preocupação com o que os outros sentem ou querem. De repente, nos sentimos mais do que satisfeitos tomando uma cerveja em nossa própria companhia.
É para o limbo que vai todo amor que acaba, toda amizade que se distancia, todo relacionamento que não perdura, toda frustração que não se resolve. Lá tudo perde a intensidade e relevância, e é muito mais fácil viver no silêncio da solidão.
No limbo não acontecem muitas coisas, mas os pensamentos fluem naturalmente. No limbo reencontramos partes nossas que deixamos esquecidas em algum passado remoto. No limbo a voz que grita mais alto é a nossa própria, pois os outros são meros coadjuvantes.
Não sei quanto tempo é necessário – ou até saudável – ficar no limbo, até que seja possível voltar para a superfície. Continuo acreditando no poder das pessoas altruístas, das pessoas que realmente se preocupam com o próximo. No entanto, por ora, estou contente por aqui.
Não vou dizer que é fácil, às vezes bate um desespero de nunca mais sentir alguma coisa com intensidade, de ficar nadando no mar da indiferença pra sempre. Ainda mais meu coração, que sempre adorou pulsar loucamente e, pela primeira vez, está em um ritmo extremamente desacelerado.
Para me confortar, passei a acreditar que, às vezes, a gente precisa tirar umas férias das pessoas que nos rodeiam, se trancar em um mundo em que seja possível se dar ao luxo de fazer e sentir o que se quiser, independente do que estiver rolando aí fora.