Quando tudo muda lá fora, mas por dentro continuamos iguais

autoconhecimento
Bruna Cosenza
18 de outubro de 2018

Sabe aquela sensação de que o tempo passou, tudo mudou ao seu redor, mas mesmo assim você sente que dentro de si muita coisa continua igual?

Descobri o que é essa sensação há poucos dias. Por algum motivo, a segunda-feira começou com a energia ruim e os meus pensamentos estavam predominantemente negativos.

Toda essa atmosfera me fez lembrar de uma amiga da faculdade que partilhava de sonhos e medos muito parecidos com os meus quando ainda éramos duas jovens estudantes ingênuas. Enviei uma mensagem para ela e perguntei como andavam as coisas, se a vida estava caminhando bem.


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Bom, o que se desenrolou a partir dessa conversa me fez refletir muito. Acredito em encontros inesperados que mudam as nossas vidas para sempre e essa amiga com certeza foi uma daquelas pessoas que cruzou o meu caminho para deixar bons ensinamentos.

Estávamos na mesma sintonia. Rapidamente ela comentou que também vivia uma semana estranhamente triste e difícil. Compartilhamos alguns pensamentos e, mais uma vez, me dei conta de como somos parecidas em tantos aspectos.

O mais assustador foi a conclusão a que chegamos juntas. Percebemos como nossos anseios, inseguranças e sonhos continuavam muito parecidos com aqueles de três anos atrás, quando ainda estávamos na faculdade sem entender muito bem o que a vida nos reservava.

Por mais que desde aquela época nós tenhamos mudado de emprego, de namorado, de círculos sociais, de projetos, e tantas outras coisas, por dentro ainda somos bem parecidas. Evoluímos? Sim. Amadurecemos? Com certeza. Porém, lá dentro, no fundo do coração e no cantinho do nosso peito, parecia que o filme de nossas vidas não tinha se modificado tanto assim no nosso interior.


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Ainda temos insatisfações muito similares que não conseguimos resolver; questionamentos que não conseguimos responder; medos que não conseguimos enfrentar e sonhos que não conseguimos realizar. De certa forma, parecíamos as mesmas garotas de três anos atrás, porém, um pouco mais sábias e calejadas.

Ficamos assustadas. Chegar a esse tipo de conclusão gera um rebuliço danado dentro da gente. De repente, estávamos nos perguntando se daqui a 5 anos, quando estivermos na casa dos 30, ainda estaremos assim.

Poderemos mudar de emprego, amigos, relacionamentos amorosos, e até de cidade ou país. Mas será o suficiente? Teremos encontrado as tão almejadas respostas que buscamos? Teremos encontrado paz para as nossas tormentas já tão familiares?

Não sei. Não consigo responder. E confesso que sinto medo quando penso nisso. Tenho certeza de que em muitos aspectos não sou a mesma pessoa que era há três anos atrás, mas também tenho muita clareza das mesmas dúvidas e inseguranças que venho carregando todos os dias, levando comigo independentemente do contexto que estou vivenciando.


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E a verdade é que não sei responder se isso é normal e todos vivem essa situação ao longo da vida ou se eu e a minha amiga que estamos completamente estagnadas. Ainda não encontrei a resposta e, sinceramente, acredito que não será nessa semana que ela chegará até mim.

A segunda-feira começou sem graça, cinza e triste. Talvez porque ela já estivesse me preparando para todas essas reflexões tão perturbadoras e reafirmações incômodas que, muitas vezes, eu tento jogar embaixo do tapete.

Mas se há uma coisa que ficou clara para mim é que apesar de não conseguir solucionar  esse questionamento agora, preciso ter clareza de que nem sempre mudar de endereço, namorado, emprego e círculos sociais é o suficiente.

As questões que me afligem vão muito além de tudo isso. Por mais que o contexto sempre influencie, é dentro de mim que encontrarei as respostas que busco e nas minhas ações que alcançarei as mudanças tão desejadas.

Afinal, nada cai do céu. E se hoje tenho as mesmas dúvidas, inseguranças e sonhos a realizar de anos atrás, preciso assumir a minha parcela de culpa por não ter trabalhado tão bem tais questões que me perseguem.

Afinal, tudo pode estar diferente no meu contexto exterior, mas se boa parte do que se passa no meu interior continua igual, então será que a minha vida mudou mesmo? Ou eu estou só me enganando conforme o tempo passa no relógio e as folhinhas do calendário caem?