O desabafo de um escritor

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Bruna Cosenza
9 de setembro de 2018

Acho que já falei isso muitas vezes, mas ser um escritor não é fácil. Ainda tenho a impressão de que muita gente pensa que basta acordar, sentar na escrivaninha e sair escrevendo – como fazemos todos os dias com as tarefas do trabalho tradicional. Mesmo quando não estamos em um dia muito bom e precisamos entregar um relatório, damos um jeito de fazê-lo.

No entanto, com a escrita não é assim. Simplesmente não se trata de determinar horários cronometrados para escrever e esperar que textos maravilhosos saiam das 10h às 17h – pelo menos para mim não funciona dessa maneira.

Escrever exige algo que vem lá de dentro, algo que eu mesma não sei nomear. Talvez possa chamar de inspiração, mas acredito que seja ainda mais profundo do que isso, pois inspirações até surgem, porém, não é sempre que conseguimos organizá-las da melhor forma por meio das palavras.

“Escrever é um ócio muito trabalhoso.” – Johann Goethe

E, assim, muitas vezes, se passam dias, semanas ou até meses… Os textos não saem como queremos, parece até que perdemos o dom. Ficamos angustiados, tristes e nos cobrando permanentemente. Por outro lado, há momentos na vida que as palavras simplesmente imploram para serem escritas e somos obrigados a interromper qualquer atividade para anotarmos as ideias que parecem transbordar em nossa mente.

São fases. Um escritor é cheio delas, sendo difícil lidar com aquelas que são mais escassas de palavras. No começo nos sentimos culpados: por que não estou escrevendo como antes? Por que não consigo poetizar meus pensamentos? São muitas perguntas e poucas respostas.

Após algumas crises, finalmente entendemos que tudo isso faz parte. Continuamos sendo bons escritores independente das fases difíceis de palavras limitadas. Continuamos amando esse dom e sentindo que o mundo precisa de mais poesia para continuar rodando. No entanto, isso não significa que podemos nos obrigar a escrever quando queremos.

Afinal, escrever é uma arte. E como toda arte necessita de alguns estímulos que oscilam bastante ao longo da vida – e é a partir deste momento que você entende a diferença vital entre qualquer outra profissão e o “ser escritor”. Mesmo quando está em um dia ruim, por mais que seja difícil, o “profissional tradicional” consegue exercer as suas tarefas e obrigações. Já o escritor muitas vezes é bloqueado e não consegue de jeito nenhum escrever textos lhe satisfaçam.

“Ou escreves algo que valha a pena ler, ou fazes algo acerca do qual valha a pena escrever.” – Benjamin Franklin

Hoje, por mais que não goste necessariamente das fases mais escassas de palavras, estou mais consciente de que elas virão. O que me acalma é que também tenho certeza de que irão embora.

Resta para mim aproveitar o lado bom desses dois momentos e usufruir da escrita da melhor forma possível – seja escrevendo inúmeros textos ou confabulando em minha mente tudo o que será capaz de enriquecer ainda mais a minha escrita quando os dias férteis voltarem com tudo. A certeza que carrego hoje é que eles sempre voltarão. Ah, se voltarão…