“O Mundo ao Lado”: uma extraordinária volta ao mundo de bicicleta.
“O Mundo ao Lado” é um livro escrito pelo paulista e aventureiro Arthur Simões que conta sobre a sua volta ao mundo de bicicleta, com duração de mais de 3 anos.
Comecei a ler logo após a minha volta do Deserto de Atacama e tenho certeza de que foi a melhor hora para essa leitura. Devorei o livro em menos de um mês, principalmente porque muitos dos questionamentos do autor logo no início me pegaram de jeito e porque uma das primeiras paradas de sua viagem é o Deserto de Atacama, ou seja, eu conseguia visualizar muito bem algumas coisas que ele relatava.
Uma dose de inspiração e coragem
A história de Arthur é simplesmente incrível e inspiradora. Ele era um estudante de Direito que, ainda na faculdade, percebeu que aquele curso não tinha nenhuma conexão com a sua essência.
Terminou a faculdade, mas largou o Direito e começou a dar aulas de Yoga. A bicicleta, que já era muito presente em sua história, o levou a criar o projeto de sua vida: a volta ao mundo de bike.
Claramente, a vida tradicional e engravatada que a maioria de nós levamos não se encaixava na essência de Arthur. Para falar a verdade, esse modelo de vida não se encaixa na vida de muita gente, mas são poucos os que possuem essa coragem para tomar riscos e viver o desconhecido.
Arthur é um exemplo maravilhoso disso, mas mesmo que eu admire toda a sua coragem, jamais conseguiria passar por tudo o que ele passou.
Um relato verdadeiro e, às vezes, doído
Ao longo do livro, seus relatos colocam o leitor diante de suas angústias, dores, medos e também de suas descobertas e alegrias. Acima de tudo, Arthur consegue transmitir de uma maneira muito rica e simples as suas reflexões sobre cada canto que percorre com a sua bicicleta.
Fui descobrindo coisas que jamais imaginava sobre vários países ao redor do mundo, ao mesmo tempo que sentia sua agonia quando algo ruim acontecia ou temia pela sua vida diante de um momento desesperador.
Confesso que, muitas vezes, achava que estava lendo uma história fictícia. Chegava a ser irreal pensar que uma pessoa que como Arthur, ou seja, que poderia ter estudado comigo ou ser meu amigo de infância, estava dando a volta ao mundo numa bicicleta, com pouquíssimos recursos, passando por todos os tipos de dificuldade imagináveis.
O poder de transformação das verdadeiras viagens permanece dentro de nós
Entre tantas reflexões que o autor trouxe até mim, a reflexão final com certeza foi a que mais me impactou. Após mais de 3 anos vagando pelo mundo com a sua bicicleta, finalmente estava chegando o momento de voltar ao ponto inicial, a sua casa: São Paulo, Brasil.
Nesse hora, Arthur começa a se sentir angustiado, pois não sabe muito bem o que acontecerá após o seu retorno. A verdade é que ele se sentia perdido.
Foram mais de 3 anos completamente nômades, vendo tudo que se pode imaginar, sentindo tudo que se possa sentir, encarando a morte diretamente como uma companheira em muitas horas. Era, com certeza, muita coisa para ser digerida.
O final do livro, portanto, é marcado por uma crise de identidade. No fim da viagem, Arthur diz que poderia ser qualquer um: um muçulmano, um mendigo, um francês rico, um judeu. Ele já não sabia mais quem era, pois tudo o que tinha visto ao longo daquele tempo tinha transformado-o completamente. Ele não era mais o Arthur que tinha partido três anos antes.
Foi nesse ponto que fiz a conexão com a minha vida. É claro que nenhuma das minhas viagens até hoje chegam aos pés da intensidade vivida por Arthur, mas toda vez que volto de uma viagem, me sinto como ele.
Volto me sentindo meio sem identidade, sem saber quem sou. Normalmente porque me deixo impactar fortemente por tudo aquilo que vejo num país estrangeiro e isso me provoca reflexões. Costumo sentir um mix de encantamento e repulsa em relação a tudo que vejo, o que me faz questionar a vida que me cerca.
Em minha última viagem ao Deserto de Atacama, voltei completamente perturbada e a única coisa que conseguia pensar era por vários dias era: o que estou fazendo da minha vida todos os dias? O que significa tudo isso? Eu quero continuar assim nos próximos anos?
Cada lugar te provoca um tipo de questionamento diferente. Cada país te faz mergulhar numa cultura completamente nova. Cada povo te faz repensar tudo o que você já tinha estabelecido como verdade.
Porém, assim como Arthur, mesmo após uma longa viagem, precisamos voltar para casa. E está tudo bem, pois a viagem não acaba quando chegamos à nossa terra natal.
Normalmente, é quando o avião pousa em nossa cidade que a viagem recomeça – é nesse momento que precisamos entender tudo o que vimos lá fora, digerir e processar tudo o que nos impactou e então decidir o que faremos com aquelas informações e sensações.
Continuaremos os mesmos ou nos deixaremos transformar por aquela viagem?
Hoje, carrego uma única certeza comigo e que a jornada de Arthur foi capaz de reafirmar para mim: uma viagem só é uma viagem quando ela continua nos transformando mesmo quando voltamos para casa.
Obrigada, Arthur, por compartilhar sua história e nos inspirar com tanta coragem.
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