A desvalorização do artista na sociedade contemporânea

autoconhecimento
Bruna Cosenza
26 de fevereiro de 2017

Quantas pessoas que você conhece sabem pintar, tocar muito bem um instrumento, escrever uma poesia ou elaborar o roteiro de um filme? Quantas?

Agora pare e pense quantos publicitários, médicos, advogados, administradores, veterinários, psicólogos você conhece? Quantos?

Aposto que com a resposta da primeira pergunta você não conseguiu nem completar duas mãos. Já a segunda… Tenho certeza de que essas pessoas são maioria no seu círculo social, certo?

Bom, então aqui vai a pergunta mais importante de todas: se ter um dom artístico é algo raro que nem todo mundo possui, por que os artistas não são valorizados como outros profissionais? Por que pessoas que querem viver de música, pintura, cinema ou literatura, tem tanta dificuldade em encontrar oportunidades e boa remuneração?

Após a minha viagem para a Europa —  um lugar que respira história —  e inúmeras visitas a grandes museus famosos mundialmente, parei para refletir sobre o quanto as pessoas realmente produziam arte antigamente e como isso era valorizado. Não sei se foi o boom tecnológico e todos os avanços que deixaram isso para trás, mas tenho a impressão de que a raiz do ramo artístico perdeu a sua força.


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É claro que existem os grandes cineastas premiados em Hollywood, os escritores de best sellers e as bandas de pop que fazem sucesso mundial, mas vamos combinar que a indústria não oferece espaço para todos que têm talento. E, afinal, isso aqui não se trata de dinheiro, mas do fato de que artistas que não são famosos mundialmente sofrem para viverem apenas da arte e isso não faz sentido nenhum, visto que são pessoas com dons singulares e raros.

Mande um médico escrever um roteiro de filme, um advogado compor uma música, um veterinário escrever um poema que toque a alma das pessoas… Não necessariamente eles vão conseguir. Diferente de outras profissões, o artista nasce com um certo dom. É algo que não sei se é possível aprender… Podemos aprender a tocar um instrumento na aula de música ou escrever uma boa redação na aula de português, mas o dom… Ah… O dom é para poucos.

O grande Arthur Schopenhauer disse algo que acredito muito e se encaixa nesse contexto:

“Uma pessoa de raros dons intelectuais, obrigada a fazer um trabalho apenas útil, é como um jarro valioso, com as mais lindas pinturas, usado como pote de cozinha.”

E é exatamente isso o que acontece com muitos artistas que, apesar de talentosos, são obrigados a abaixarem a cabeça para o sistema e deixarem a paixão de lado para sobreviverem. Seus dons são desvalorizados e não encontram espaço para serem apenas aquilo que deveriam ser: artistas.

Em uma sociedade como a nossa, aquele que nasce um pouco fora da caixa sofre. O sistema não dá tanto espaço para nós, artistas, como dá para outros profissionais. É difícil, não podemos negar, mas a verdade é que um artista não desiste. A jornada é árdua, mas ele se mantém em pé —  lutando pelo seu espaço, lutando pelo seu dom.


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