Eu precisava ir
Peguei as chaves do carro na estante da sala e guardei no bolso da minha calça jeans. Hesitei um pouco quando cheguei perto da porta de casa, mas respirei fundo e criei coragem para tomar meu rumo. Eu precisava ir, não podia mais enganar a mim mesma como estava fazendo há tanto tempo. “Eu precisava ir”, continuava repetindo para mim mesma.
Decidi não ir de carro. Peguei o primeiro ônibus que passou e desci na estação de metrô mais próxima de casa. Ainda meio sem rumo, passei pela catraca e esperei o trem chegar ansiosamente. “Eu precisava ir”, continuava repetindo para mim mesma.
O trem chegou. Fazia muito calor e me arrependi de não ter colocado uma saia. Entrei e me sentei num dos assentos vazios. Não sabia direito em qual estação deveria descer, sabia apenas que precisava ir. Não podia continuar no mesmo lugar. Eu realmente precisava ir.
Depois de cinco paradas, resolvei descer. Apenas segui meu instinto. Subi as escadas do metrô e, com a respiração um pouco ofegante, senti meu celular vibrar na bolsa. Ignorei. Precisava ir. Não tinha tempo para isso. Quando saí do metrô, meus olhos se depararam com raios de sol que ardiam em meu rosto.
Continuei andando pelas ruas até que decidi me sentar num café. Não estava mais tanto calor. O céu já estava coberto de nuvens e eu podia sentir o vento batendo em meu rosto, aliviando a sensação que o calor tinha deixado ao penetrar em minha pele. Pedi uma água e um pão de queijo ao garçom e fiquei apenas esperando.
De repente, o avistei. Tudo começou a fazer sentido. Não ter saído de carro, ter descido bem naquela estação do metrô, escolher me sentar justo naquele café. Foi tudo porque “eu precisava ir”. Quando coloquei os pés para fora de casa não sabia para aonde ir, mas quando o avistei no meio da multidão daquela rua e percebi que nossos olhares se cruzaram como costumavam fazer há tanto tempo, entendi que eu precisava ir. Precisava ir ao seu encontro.