Nossas sentenças de morte

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Bruna Cosenza
8 de junho de 2015

“Você tem dois anos de vida”, o médico disse para Stephen Hawking aos 21 anos. Hoje, ele tem 73 anos.

Todos os dias recebemos pequenas (ou grandes e devastadoras) sentenças de morte. E cada um irá sentir as suas com a mesma intensidade de uma colisão entre o Sol e a Terra.

Aos 5 anos, a sentença de morte é decretada quando sua mãe não deixa comer doces antes do jantar.

Aos 15, quando acontece a primeira desilusão amorosa.

Aos 18, quando se percebe que a tão sonhada independência não se concretizou como nos filmes.

Aos 25, quando não há dinheiro para pagar as contas no fim do mês.

E por aí vai…

No entanto, as sentenças de morte também podem ser coisas simples do dia a dia. Como quando você acorda com o pé esquerdo e logo cedo já leva bronca do chefe; quando perde o ônibus em um dia de chuva; ou quando discute com o namorado.

As sentenças de morte podem ser metafóricas, como as citadas acima, ou realmente espécies de anúncios de “datas de validade” em consequência de doenças terminais, como no caso de Stephen Hawking. Muitas histórias, fictícias e reais, já me trouxeram à tona este assunto, no entanto, o filme “A Teoria de Tudo” e a brilhante interpretação de Eddie Redmayne me tocaram de uma forma incomum. Diante de um diagnóstico pra lá de pessimista, Stephen se deparou com a sentença de que tinha apenas mais dois anos de vida. Como viver depois de ouvir uma coisa dessas?

Dependendo da fase pela qual estamos passando na vida, uma determinada questão terá maior peso – aos 5 são os doces, aos 15 os amores, aos 18 a independência, e por aí vai. Temos uma tendência ao exagero, mas tudo bem, pois isso faz parte do ser humano. Entretanto, histórias como a de Stephen abrem nossos olhos e mentes para irmos muito além desse exagero em relação a algumas coisas banais do dia a dia.

Entre tantas pessoas, um físico genial foi “premiado” com uma doença rara que afeta absolutamente tudo, menos sua atividade cerebral. De certa forma parece até meio irônico. É como se a vida o estivesse testando: “Vamos lá, seu cérebro continuará intacto para sempre, mas todo o resto irá se perder. Se vire! Mostre para o mundo que isso não te impede de conseguir tudo o que você quer!”. E ele conseguiu. Continua conseguindo dia após dia. Acredito que a maior missão de pessoas como Stephen seja realmente ser fonte de inspiração em um mundo tão carente de esperanças. Por mais que a maioria dos corpos humanos funcionem perfeitamente, temos muitas mentes doentes. Mentes estagnadas por suas sentenças de morte.

Quer dizer, se Stephen Hawking consegue viver com uma doença degenerativa há mais de 50 anos, será que também não conseguimos viver com as nossas sentenças?

A interrupção da felicidade ou até da própria vida não está nas sentenças de morte, mas na forma como lidamos com elas. É claro que diante de um acontecimento ruim o direito de entristecer deve ser exercido, mas após o período de luto outras formas de se encarar as sentenças precisam ser encontradas – seja para o ônibus perdido no dia de chuva, para o coração partido por um amor ou para a doença terminal.

Acredito que há uma sentença unânime para todos os seres humanos: o primeiro respiro de qualquer ser já implica na morte – para viver é preciso morrer. E se nessa jornada todos fossem um pouco Stephen Hawking, o mundo estaria cheio de pessoas admiráveis. O relevante não está em quais são, mas em como se enfrentam os obstáculos nessa jornada, pois é isso que faz a diferença quando uma sentença de morte após a outra anunciar a sua chegada.

E que fique claro: elas chegarão sem pedir licença e muito menos perdão.