Ainda há tempo para ser feliz?
Às vezes, tenho medo de que não dê mais tempo para ser feliz. Os ponteiros do relógio passam tão rápido, mas ao mesmo tempo tão devagar, que fico confusa. Tenho a impressão de que estou gastando as minhas horas com as coisas erradas, mas também gosto de acreditar que essas horas gastas equivocadamente podem me levar até aquilo que eu mais almejo.
Assim que esses pensamentos me atingem, fico confusa e decido comprar um chocolate no meio da tarde para espairecer das obrigações rotineiras do trabalho e da vida. Faz frio e meu cabelo balança com o vento. Espero o sinal verde de pedestres para atravessar a rua. Checo mais de uma vez para ter certeza de que não está vindo nenhum carro e eu não serei atropelada de uma maneira estúpida. Chego ao supermercado e procuro por um chocolate que dê algum significado para aquela tarde fria.
No caminho da volta, penso. Penso em tanta coisa que fico ainda mais confusa. A cidade parece não me pertencer. Olho para o céu e vejo um avião passar. Espero o sinal verde para atravessar a rua e checo novamente se todos os veículos estão realmente parados diante do semáforo. Como meu chocolate em menos de um minuto. Olho para o céu mais uma vez e vejo outro avião passar. Imagino como seria bom estar dentro daquele avião, independente de qual o seu destino. Qualquer coisa para me tirar da selva de pedra.
Olho para o relógio acreditando que já tenha se passado pelo menos meia hora, mas os ponteiros não andaram nem dez minutos desde que saí do trabalho. Não sei por que dizem que o tempo passa tão rápido. Às vezes, tenho a impressão de que um dia equivale a uma semana. Mas, mesmo assim, tenho medo de que não dê mais tempo para ser feliz. Fico confusa. Jogo fora a embalagem do chocolate e entro no prédio. Checo as horas no meu celular e vejo que de repente já se passaram mais cinco minutos. Acho estranho os ponteiros começarem a andar tão rápido se pouco antes pareciam tão lentos.
Chamo o elevador enquanto reflito sobre o que é ser feliz. Não consigo definir felicidade, mas fico com medo de que não dê mais tempo para ser feliz. Entro no elevador e até chegar ao quinto andar fico vidrada na tela do meu celular, ignorando as pessoas que dividem aquele pequeno espaço comigo. Quando a porta se abre, hesito. Penso por alguns segundos e então saio. Quando avisto a minha mesa, do jeitinho que a deixei, tenho a certeza de que há tempo para ser feliz. Rapidamente me viro e aperto várias vezes o botão do elevador, ansiosa ao vê-lo passando por todos os andares até chegar no quinto. Quando a porta se abre, encontro um colega que me pergunta: “Já está indo embora?”. E eu respondo: “Não, estou indo ser feliz!”.