Carta para os que transformaram sentimentos em palavras

cartas
Bruna Cosenza
9 de julho de 2016

Essa é a primeira vez que te escrevo. Provavelmente demorei um pouco porque costuma ser mais fácil escrever sobre o que machuca, do que sobre o que faz sorrir. Não sei se você já sabe, mas costumam dizer por ai que se envolver com escritores exige coragem, pois eventualmente você pode se transformar em verso, rima ou apenas algumas palavras soltas… Pois é, hoje quis te transformar em palavras.

Faz pouco tempo que nos despedimos. Ainda não passa nem das dez horas da noite. Antes de sair, você falou ao pé do meu ouvido sobre o quanto sentia. Não respondi. E fiquei me perguntando porque tantas vezes não consigo te responder. A verdade é que percebi que tenho medo. Medo de tê-lo hoje e amanhã te ver pegar o primeiro avião sem data para voltar. Medo de eu mesma decidir ir embora e precisar deixá-lo. Medo de colocar em risco um equilíbrio que lutei tanto para alcançar. Medo de querer mais e, por algum motivo, não poder ter. Medo de te perder.

Foi bom enxergar tudo isso, pois acabei me dando conta de que quando a gente não tem medo (nem que seja um pouquinho) de perder alguém, significa que não gostamos tanto assim daquela pessoa. Quando finalmente percebi que a ideia de te perder me causava certa inquietude, fiquei com mais medo ainda, pois sabia o que aquilo significava. Significava que eu também gostava de você. E tudo bem, não tem problema. Na verdade, acho que o grande problema não é gostar, mas ter medo de gostar. Gostar e, de certa forma, ficar pensando em razões para não gostar.

Olha, se tudo isso que acabei de escrever faz algum sentido, nem eu sei mais. Acho que quando as coisas começam a ficar meio confusas é porque o coração está falando mais alto do que a razão. Ou melhor, é quando o medo de perder começa a gritar tanto, que não tem mais como fingir que não escutamos. E quanto maior o medo de perder, provavelmente significa que mais gostamos daquela pessoa.

No final das contas, a verdade é que não importa o quanto eu raciocine e tente ignorar esse meu medo, continuo sem fazer a mínima ideia se vamos nos manter inteiros ou se vamos nos partir mais pra frente. E quer saber? Melhor assim. Acho que fica tudo mais gostoso quando a gente não controla tanto, não faz muitos planos, e simplesmente deixa acontecer. Então, na próxima vez que você disser que sente alguma coisa, vou apertar o botãozinho que desliga o meu cérebro e responder com o verso mais sincero que existir dentro de mim. Afinal, sou feita de palavras e, quem sabe, aos poucos eu transforme todos os meus sentimentos por você em alguns versos e rimas também.