O coração, se pudesse pensar, pararia.
Já faz tempo que eu quero te escrever. Na verdade, nem tanto tempo assim. É que desde que você se foi as horas demoraram mais a passar, os dias se arrastaram e o meu coração ficou rastejando pelos cantos. Ferido. Ínfimo.
“O coração, se pudesse pensar, pararia.” Fernando Pessoa.
Li. Reli. Pensei (mais uma vez).
É fato: corações não pensam. Meu coração não pensa. Ele grita e eu finjo que não escuto. Ele implora e eu nego. Ele persiste e eu admiro. Porque eu sei que o coitado não está entendendo nada. Ele não tem a racionalidade do meu cérebro. Ele sabe o que quer e não há nada no mundo que o faça parar. Quer se satisfazer. Quer colo. Quer atenção. E eu continuo repetindo que, por ora, se contente com a solidão, pois é só o que terá.
Enquanto isso, em meio ao caos, meu cérebro continua calculando riscos e probabilidades (na maioria das vezes, probabilidades de tudo dar errado). Eu sei que ele está dando uma de durão, negando os desejos do coração, que a ele também pertencem. No fundo, tem pena do pobre coração que, por não raciocinar, continua agindo de acordo com as emoções, se arrastando aos trancos e barrancos… Mas alguém aqui precisa manter tudo nos eixos. Alguém precisa…
E que terrível seria se nossos corações pensassem. A nossa única parte completamente irracional, genuína e impulsiva. Porque tudo que vem do coração é puro como a risada de uma criança.
O coração. O órgão que nos mantém vivos, que bombeia nosso sangue independente da nossa vontade, o centro de tudo. É também aquele que se parte invisivelmente um milhão de vezes, se recompõe, se parte novamente, insiste nos mesmos erros, afirma que é a última vez e depois faz tudo de novo.
A sua mágica é exatamente essa: não pensar, só sentir. Porque se pensasse, pararia.
Então, ele diz mais uma vez e quantas mais precisar, até parar de sentir, que ele te ama (mesmo assim).