Carta para os que decidiram se abrir

cartas
Bruna Cosenza
20 de junho de 2016

Este texto é uma recompensa para uma pessoa muito especial que colaborou no projeto “Lola & Benjamin” <3 Com certeza muitos se identificarão!

Gustavo,

É esquisito escrever para você, já que por tanto tempo a nossa prioridade pareceu ser manter o orgulho e não ir atrás do que realmente queríamos. Hoje, no entanto, já tenho uma postura diferente. Por mais difícil que seja, tenho vontade de colocar tudo para fora.

Acredito que talvez isso seja consequência de ter guardado tanta coisa dentro de mim por tanto tempo e, principalmente, não saber o que se passava na sua cabeça. Sei que não posso te obrigar a se abrir comigo, mas pelo menos posso aliviar esse peso dentro de mim sendo o mais sincera possível.

Estou do outro lado do mundo. Tudo é diferente por aqui e confesso que mesmo depois de meses, ainda não me acostumei completamente. Sinto falta de laços mais fortes com as pessoas, sinto falta da proximidade e da segurança que eu tinha em casa com os meus amigos e familiares. E confesso que tudo isso me faz pensar em você mais do que eu gostaria…

Ainda repasso na cabeça as palavras que falamos um para o outro um dia antes de eu embarcar. Por que deixamos tudo para o último segundo? E por que, mesmo depois daquela conversa, não conseguimos entender o que seríamos a partir de então? Fico me perguntando se é porque na verdade não seremos mais nada e eu que tenho essa mania de continuar acreditando que ainda temos alguma coisa.

Acho que são muitos questionamentos para uma garota que está a do outro lado do mundo, mas a distância não mudou muita coisa nesse sentido. Continuo com as mesmas dúvidas e receios, na esperança de que de um dia para o outro eu resolva esse quebra cabeça mental de que poderíamos ser tudo, mesmo que tenhamos escolhido não ser nada por enquanto.

A vida é esquisita. Não consigo entender por que as coisas aconteceram assim. De certa forma, parece até que o destino não quis nos dar uma chance de verdade… Deixamos para falar tudo de última hora, pois sabíamos que estávamos acomodados e aquilo estava chegando ao fim. Foi um grande balde de água fria para ambos. Não tivemos tempo para saber o que aconteceria depois que despejamos todas aquelas palavras e sentimentos, e talvez nunca tenhamos essa chance.

Meus amigos dizem para abstrair e aproveitar a minha nova vida. É isso o que tenho tentado fazer, mas hoje, por algum motivo, quis te escrever. Não me importo muito se você lerá com o coração ou apenas com os olhos. Uma das coisas mais valiosas que aprendi nesse tempo longe de casa foi a nunca deixar nada para amanhã e só me arrepender do que eu não fiz. Então, daqui um tempo, quando eu me lembrar desse momento, vou sorrir por não poder me arrepender de não ter enviado essa carta. E isso já é mais do que o suficiente para mim.

Com amor,

Mari.