Carta para os sonhadores

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Bruna Cosenza
19 de fevereiro de 2016

Quinta-feira passada foi o meu último dia naquele emprego. Não hesitei em abrir um sorrisão quando saí por aquela porta. Fui completamente dominada por uma sensação de alívio, mas ao mesmo tempo pensei: e agora?

No dia seguinte não sabia o que fazer. Será que eu deveria acordar ao meio-dia? Ou seria uma ousadia muito grande me dar a esse luxo? E o que eu faria o resto da tarde? Foi realmente esquisito quando o despertador não tocou em plena sexta-feira e, ao abrir os olhos, já passava das dez horas da manhã. Foi uma sensação boa e estranha ao mesmo tempo.


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A vida lá fora continuava correndo, mas eu ainda estava deitada na cama sem nem fazer ideia do que comeria no café da manhã. Resolvi me levantar, tomei um banho e saí de casa logo depois do almoço. Peguei o metrô e fui direto para a Avenida Paulista. O sol forte fazia com que a minha cabeça latejasse, por isso parei numa sorveteria qualquer e aproveitei para me sentar um pouco.

Fiquei observando as pessoas apressadas ao meu redor. Homens de terno falavam aflitos ao celular. Mulheres de salto alto corriam para não perder o ônibus. As pessoas continuavam apressadas como sempre. Mas eu não. Nesse dia eu estava calma e serena. Tinha tempo até para observar a cor do céu que, por tanto tempo, tinha passado despercebida.

Aquele dia foi um grande alívio para mim. Comecei a refletir sobre como, no meio da rotina turbulenta, acabamos nos esquecendo dos nossos sonhos. Deixamos para depois, acreditando que sempre haverá um momento melhor para eles. Ficamos até mais tarde na empresa para mostrar serviço ao nosso chefe, mas nos fins de semana temos preguiça de esticar algumas horinhas para colocar aquele projeto pessoal em prática.


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Já me disseram para esquecer meus sonhos malucos e seguir a trilha do caminho mais comum possível. Confesso que no começo segui esses conselhos, mas foi impossível negar a insatisfação que, aos poucos, foi me dominando. Eu queria mais. Eu precisava de mais. Cada pessoa é movida por alguma coisa, mas as pessoas que são movidas por algum tipo de arte reagem de forma diferente. Elas não são como tantas outras. Não se contentam com escritórios, ambientes climatizados e o som da teclas do computador.

Essas pessoas são diferentes. Elas precisam mergulhar num universo completamente fora da caixa, pois é isso o que as mantêm vivas. E todos os seus dias são desafiadores, mas também são de tirar o fôlego. Eu sou uma dessas pessoas. E não me arrependo. Não faria nada diferente. Comecei a colocar meus sonhos em prática no segundo em que abandonei minha vidinha planejada. Finalmente entendi que o único momento para os meus sonhos é o hoje. É agora.