Quantas vezes é preciso se despedir para conseguir dizer adeus?
Roberta mal tinha conseguido dormir. Acordava de meia em meia hora pensando no que aconteceria no dia seguinte. Finalmente diria adeus para a pessoa que por muito tempo acreditou ser o amor de sua vida. Entre os cochilos daquela madrugada se pegou pensando no amor que tinha por Nicolas, se lembrando de todas as vezes que tentou se apaixonar por outra pessoa sem sucesso.
Não fazia muito tempo que ela tinha aprendido que não adiantava querer forçar as coisas. Se não estava pronta, simplesmente não se apaixonaria por outra pessoa. Mesmo assim, continuava se sentindo perseguida pela sensação de que talvez nunca mais amaria alguém como amou Nicolas. E se aquelas baboseiras dos filmes românticos fossem verdade? E se realmente houvesse apenas uma pessoa que fosse capaz de fazer nosso coração bater mais forte? E se essa pessoa fosse Nicolas? Ela não queria que fosse ele.
Já tinham se despedido tantas vezes e, mesmo assim, sempre acabavam voltando um para o outro. Não voltando a ficar juntos, mas quando seus olhares se encontravam, tinham aquela sensação estranha de quem ainda gosta e se preocupa com o outro.
Naquela quarta-feira, Roberta estava pronta para dizer o tão esperado adeus. Sabia que aquela situação era insustentável, não podiam continuar se esbarrando por ai. Já tinha passado da hora de transformar aquelas reticências no temido ponto final que, por tanto tempo, eles tentaram evitar.
— Oi! — Nicolas falou assim que a avistou.
— Oi! — ela respondeu.
Roberta tentava gravar cada detalhe daquele último encontro em sua mente. Sabia que, dificilmente, o veria novamente. Sabia que, mais do que nunca, precisava ser forte.
— Queria te dar isso! — ela falou tirando um envelope da bolsa.
— O que é? — ele perguntou surpreso.
— Minha última carta para você!
Ficaram em silêncio. Ele sabia o que aquilo significava. Roberta estava dizendo adeus. Ele pegou o envelope e guardou-o na mochila. Comentaram alguma coisa sobre as férias, o trabalho e, então, Roberta disse que precisava ir.
— Roberta… — Nicolas disse com os olhos vidrados nela.
— Eu preciso ir! — ela o abraçou e deu um beijo em sua bochecha, pensando que aquela seria a última vez que se tocariam.
— Não vamos terminar assim… — ele a segurou pelo braço.
— Você sabe que não tem outro jeito… — ela falou passando a mão em seu cabelo.
Nicolas a viu desaparecer na multidão de pessoas que andavam por aquela rua. Ele ainda ficou ali parado alguns minutos pensando em tudo o que tinha acabado de acontecer. Caminhou até o carro e assim que entrou pegou o envelope na mochila. A carta tinha mais de duas páginas e ele a releu pelo menos três vezes. Absorveu cada palavra, cada sentimento de Roberta. Quando finalmente terminou, olhou para fora e notou que, como sempre, chovia em dias tristes.
Pegou o celular e começou a digitar uma mensagem. Reescreveu algumas vezes, pois não sabia exatamente o que dizer. As palavras da carta ecoavam em sua mente. Depois de muitas tentativas, desistiu da mensagem. A carta de Roberta era um adeus, não um até logo. Eles não se veriam mais, não se tocariam mais, não saberiam mais nada um sobre a vida do outro.
Nicolas ligou o carro e começou a dirigir para casa. Só queria tomar um banho e assistir um filme para espairecer. Quando chegou em seu apartamento, leu mais uma vez a carta e guardou-a na gaveta de seu criado-mudo. Começou a digitar uma mensagem em seu celular.
“Roberta,
Acabamos precisando de muitas despedidas para conseguirmos dizer adeus. Não sei se agora realmente conseguimos, mas se for o caso, quero que saiba que foi uma das pessoas mais especiais que conheci até hoje. Obrigado por ter cruzado o meu caminho. Foi preciso muito tempo para finalmente dizermos adeus, mas não precisamos de muito para nos apaixonarmos. Acho que é por isso que tenho tanta certeza de que tudo o que vivemos foi real e sincero.
Nicolas.”